A nicotina contida no tabaco estimula o circuito de recompensa, incentivando o consumo e podendo levar à dependência. Num artigo publicado na revista
Neuron, cientistas revelam, em ratos, como uma pequena região do cérebro, o núcleo interpeduncular, age como um freio natural no circuito de recompensa. Este freio, cujo mecanismo de ação eles descrevem, reduz o atrativo da nicotina para os animais.
Quando a nicotina contida no tabaco é inalada, ela age sobre várias estruturas do sistema nervoso. Mais precisamente, ativa neurônios numa zona específica do cérebro, a área tegmental ventral (VTA). Esta zona faz parte do chamado sistema de recompensa.
A ativação desses neurônios leva à liberação de dopamina, um mensageiro químico que reforça comportamentos relacionados à busca de recompensas. Este mecanismo pode potencialmente levar à dependência da nicotina.
Descoberta de um mecanismo natural de regulação do vício da nicotina
Num estudo publicado na revista
Neuron, os cientistas investigaram uma pequena região do cérebro chamada núcleo interpeduncular (IPN). Esta região é particularmente rica em receptores específicos para nicotina chamados receptores nicotínicos do tipo b4.
Desenvolvendo uma técnica de quimiogenética em ratos geneticamente modificados, conseguiram desativar esses receptores nicotínicos apenas nesta região cerebral. Observaram então que esta desativação tornava a nicotina mais atraente e amplificava a resposta da VTA à droga. Esta descoberta mostra que o IPN age como um freio à nicotina, através dos receptores nicotínicos do tipo b4.
Porém, o IPN não está diretamente conectado à VTA. Para entender como este freio funciona, os cientistas usaram outra técnica, a optogenética, que permite controlar a atividade dos neurônios com luz. Descobriram que o IPN influencia outro grupo de neurônios situados numa região chamada LDTg, para modular o atrativo da nicotina. Este relé parece portanto essencial para o efeito de freio.
Estes resultados revelam um mecanismo natural de regulação do efeito viciante da nicotina. Mostram que o sistema nervoso não se limita a reforçar comportamentos de busca de recompensa, mas também possui mecanismos para os frear.
A - Método quimiogenético: o receptor nicotínico do tipo b4 é mutado para inserir uma cisteína próxima ao sítio de ligação à nicotina. Um ligante específico se liga a esta cisteína e inibe duradouramente o receptor.
B - Na ausência do ligante, a nicotina em baixa dose ativa fortemente o IPN mas não a VTA, e permanece pouco atraente.
C - Após ligação do ligante, o IPN é inibido, e a VTA é ativada pela nicotina, que se torna atraente mesmo em baixa dose.
© Alexandre Mourot
Saber mais: Jehl J, Ciscato M, Vicq E, et al. The interpeduncular nucleus blunts the rewarding effect of nicotine.
Neuron. Publicado online em 16 de abril de 2025. doi:
10.1016/j.neuron.2025.03.035
Fonte: CNRS INSB