Sabe-se que é possível combater fogo com fogo – é o princípio do contrafogo usado no combate a incêndios florestais –, porém a ideia de combater o fogo com madeira é não apenas contra-intuitiva, mas também desafia completamente a lógica.
No entanto, se os resultados dos trabalhos laboratoriais de Maxime Parot se confirmarem em maior escala, poderemos um dia ver aviões-cisterna despejando um gel à base de moléculas extraídas da madeira nas bordas de incêndios florestais para conter sua propagação.
Para que um incêndio florestal comece e se propague, é necessário um combustível, oxigênio, calor e uma reação em cadeia. O gel desenvolvido pelos pesquisadores da Universidade Laval atua nesses quatro elementos.
Patrick Bourgeois
Este pós-doutorando, membro da equipe do professor
Alexis Achim do Departamento de Ciências da Madeira e da Floresta, apresentou os resultados de seus trabalhos sobre a eficácia de um gel à base de moléculas extraídas da madeira no combate a incêndios florestais, durante o Colóquio da Faculdade de Florestas, Geografia e Geomática, realizado nos dias 21 e 22 de novembro no campus.
Este gel é composto principalmente por água e celulose, um polímero que representa cerca de 50% da massa da madeira e que, em estado natural, é um combustível, explica Maxime Parot. "Mais precisamente, utilizamos filamentos de celulose cujo comprimento pode chegar a alguns milímetros, mas cujo diâmetro tem apenas alguns nanômetros. A rede tridimensional formada por esses filamentos captura as moléculas de água, o que retarda a combustão do gel. Além disso, adicionamos um fertilizante agrícola, o fosfato de diamônio, que freia a reação em cadeia que ocorre durante a combustão."
Para avaliar a eficácia deste gel, o pós-doutorando expôs pequenas amostras (10 cm X 10 cm X 1 cm) de pinheiro-negro a uma fonte de calor de 35 kW/m
2. "Sem o gel, a madeira pega fogo após 40 segundos. Quando o gel é aplicado na madeira, leva mais 6 minutos para que ela inflame. Além disso, o calor liberado pela combustão da madeira é 44% menor do que nos testes realizados sem o gel. Ao adicionar lignina, outra molécula presente na madeira, ao nosso gel, reduzimos em 75% o calor produzido."
Para que um incêndio florestal se inicie e se propague, é necessário haver quatro condições, continua Maxime Parot. "É preciso um combustível, oxigênio, calor e uma reação em cadeia. O gel que desenvolvemos impede o fogo de atingir o combustível (a madeira), bloqueia a passagem do oxigênio, reduz a produção de calor e freia a reação em cadeia graças ao fosfato de diamônio. Ele atua, portanto, sobre os quatro elementos essenciais para os incêndios florestais."
Ainda há muito trabalho a ser feito para levar essa ideia do laboratório ao campo, reconhece o pós-doutorando. "Primeiro, preciso realizar testes em amostras maiores de madeira, usando temperaturas mais altas, para reproduzir o que acontece no campo durante um incêndio florestal."
A análise econômica também precisa ser feita. "É certo que custa mais caro do que água, admite ele, mas é preciso considerar as economias obtidas ao proteger melhor as infraestruturas humanas e as florestas." Economias que podem aumentar rapidamente, considerando o crescimento esperado na frequência e intensidade dos incêndios florestais devido às mudanças climáticas.
Fonte: Université Laval