Cédric - Quarta-feira 4 Dezembro 2024

Uma pílula poderia imitar os benefícios do yoga? 🧘

Inspirar profundamente, expirar lentamente. Esse gesto, tão instintivo, pode muito bem ser a chave para uma revolução terapêutica. Os pesquisadores estão descobrindo pouco a pouco como a nossa respiração influencia diretamente nossas emoções, abrindo caminho para tratamentos inovadores contra a ansiedade.


Há milênios, práticas como o yoga ou a meditação destacam o poder calmante da respiração lenta. Porém, essa ligação entre o ritmo do respirar e a sensação de tranquilidade, embora evidente para muitos, permaneceu amplamente inexplicada no nível neurológico. Um recente avanço científico finalmente traz respostas, conectando os padrões respiratórios ao funcionamento preciso do cérebro.

No centro desta descoberta, há um circuito cerebral que conecta o córtex cingulado anterior, responsável por várias funções cognitivas, ao tronco encefálico, onde ocorre a regulação automática da respiração. Observando camundongos, os cientistas identificaram como essa ligação permite sincronizar a respiração com estados emocionais variados, sejam eles de calma restaurada ou de aumento do estresse.


Os experimentos, publicados na Nature Neuroscience, mostram que, quando este circuito é ativado, os camundongos diminuem a respiração e adotam um comportamento calmo, mesmo diante de situações ansiogênicas. Esse mecanismo funciona desacelerando a atividade da medula espinhal, principal controlador dos ritmos respiratórios automáticos.

Para isolar esse processo, a equipe usou a optogenética, uma técnica que manipula a atividade neuronal com altíssima precisão por meio da luz. Ao ativar ou inibir esse circuito, os pesquisadores conseguiram influenciar diretamente os comportamentos respiratórios e emocionais dos animais. Os resultados mostram uma redução significativa da ansiedade quando o circuito é estimulado.

O objetivo dos pesquisadores vai além do estudo em camundongos. Eles vislumbram aplicações práticas para humanos. Esse controle dos mecanismos respiratórios pode levar ao desenvolvimento de tratamentos para prevenir a hiperventilação ou aliviar transtornos de estresse pós-traumático.


Imagem ilustrativa Pexels

Um dos principais autores, Sung Han, considera esse avanço como uma oportunidade única de integrar os benefícios da respiração consciente em terapias farmacológicas. O conceito de uma "pílula do yoga", como ele a chama, parece promissor. Ela poderia, segundo ele, induzir um estado de calma semelhante ao de uma sessão de meditação.

Essa descoberta não se limita a desacelerar a respiração. Ela também abre portas para uma melhor compreensão das conexões entre nossas emoções e funções vitais. Os cientistas continuam explorando esse circuito, buscando identificar outras áreas cerebrais responsáveis pelos ritmos rápidos, também influenciados pelas emoções.

Um dia, esse tipo de pesquisa poderá transformar a forma como tratamos o estresse e a ansiedade, não apenas entendendo melhor sua origem, mas agindo diretamente sobre seus mecanismos neuronais.

O que é optogenética?



A optogenética é uma técnica usada nas neurociências para controlar a atividade dos neurônios através da luz. Ela se baseia no uso de proteínas sensíveis à luz, como a channelrhodopsina, inseridas em células neuronais por meio de vetores virais.

Em resposta à luz de um comprimento de onda específico, essas proteínas ativam ou inibem os neurônios, permitindo analisar em tempo real seu papel nos circuitos cerebrais. Ao contrário dos métodos químicos ou elétricos, a optogenética oferece uma precisão excepcional.

Dessa forma, os pesquisadores são capazes de estudar as relações entre grupos específicos de neurônios e comportamentos, emoções ou funções corporais, abrindo caminho para tratamentos direcionados para transtornos como a ansiedade ou a epilepsia.

Autor do artigo: Cédric DEPOND
Fonte: Nature Neuroscience
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