Uma equipe de pesquisa acaba de descrever uma espécie inédita de medusa descoberta em um lugar remoto no Japão. Esta rara medusa foi encontrada a uma profundidade de 812 metros em uma estrutura vulcânica subaquática chamada caldeira de Sumisu, nas ilhas Ogasawara. O animal gelatinoso, de cerca de 10 cm de diâmetro e com um estômago vermelho que lembra a Cruz de São Jorge vista de cima, foi identificado como Santjordia pagesi, uma nova espécie de medusa. Trata-se de um tipo de medusa em forma de guarda-chuva, de natação livre, com um pedúnculo reduzido.
André Morandini, último autor do artigo, faz parte da equipe de pesquisa. Ele é professor de zoologia no Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP) e diretor do Centro de Biologia Marinha (CEBIMar) da mesma universidade. Os outros autores são pesquisadores da Agência Japonesa para as Ciências e Tecnologia do Mar e da Terra (JAMSTEC), no Japão, e do Instituto de Tecnologia de Okinawa (OIST), também no Japão.
A Medusa da Cruz de São Jorge, como foi nomeada, parece viver exclusivamente na caldeira de Sumisu nas ilhas Ogasawara, a cerca de 460 km ao sul de Tóquio. A caldeira é uma estrutura vulcânica submarina hidrotermal com um diâmetro de cerca de 10 km e uma profundidade de 812 metros. "A espécie é muito diferente de todas as medusas das profundezas descobertas até agora. Ela é relativamente pequena, enquanto outras neste tipo de ambiente são muito maiores. A coloração vermelha viva de seu estômago provavelmente tem relação com a captura de alimento", explica André Morandini.
Como todas as medusas, S. pagesi é transparente, e o estômago vermelho vivo garante que os organismos bioluminescentes não possam ser vistos pelos predadores uma vez que são engolidos. A bioluminescência (emissão de luz por organismos vivos) é comum na escuridão das profundezas marinhas.
O nome da espécie, pagesi, foi escolhido em homenagem ao Dr. Francesc Pagès, taxonomista de medusas de Barcelona, recentemente falecido. Os autores determinaram que a medusa pertence a um novo gênero (Santjordia, São Jorge em catalão) e a uma nova subfamília (Santjordiinae) da família das medusas Ulmaridae.
A descoberta de uma nova espécie normalmente envolve a coleta de vários espécimes, mas S. pagesi é muito rara, e foi tão difícil coletá-la que a descrição foi baseada em um único espécime, apesar de os cientistas terem visto outro espécime próximo e esperarem que futuras explorações do oceano profundo descubram outros membros do grupo. Um espécime anterior havia sido identificado em 2002 pelo veículo submarino telecontrolado (ROV) Hyperdolphin durante um mergulho na caldeira de Sumisu, que só pode ser acessada por expedições científicas com esse tipo de equipamento especial. Nenhum outro espécime foi encontrado até 2020, quando o KM-ROV filmou outro indivíduo da mesma espécie.
"Escolhemos publicar a descrição e chamar a atenção para as espécies presentes no local, que possui um substrato rico em minerais e potencial para ser explorado comercialmente", declarou Morandini.
Devido à sua diferença até mesmo em relação às espécies proximamente relacionadas, os pesquisadores acreditam que S. pagesi possa ter um arsenal de venenos também diferentes dos descobertos até agora. "Quem sabe? Talvez ela contenha segredos mais valiosos que todas as riquezas minerais que poderiam ser extraídas desse lugar. Tudo isso com a vantagem de manter a espécie e o local intactos", afirmou Morandini.
Autor do artigo: Cédric DEPOND
Fonte: Zootaxa