Os cientistas exploram a origem dos ingredientes da vida no nosso planeta. Um estudo recente propõe que compostos voláteis essenciais, como o hidrogênio e o carbono, poderiam provir de um impacto cataclísmico, o mesmo que deu origem à nossa Lua, há mais de quatro bilhões de anos. Esses materiais são fundamentais para a biologia, pois formam a base das moléculas orgânicas.
O impactador, chamado Theia, era um corpo do tamanho de Marte. Ele teria colidido com a proto-Terra, trazendo voláteis das regiões externas do Sistema Solar. Lá, as temperaturas mais baixas permitem que esses elementos se condensem, ao contrário das zonas próximas ao Sol onde permanecem gasosos.
Os pesquisadores usaram modelos químicos para analisar isótopos em meteoritos. Ao estudar a desintegração radioativa do manganês, puderam traçar os primeiros milhões de anos da formação terrestre. Este método oferece uma janela precisa sobre os processos antigos.
Os planetas internos, como a Terra, formaram-se rapidamente e esgotaram seus recursos locais em voláteis. Theia, vindo de mais longe, preencheu este déficit. Esta colisão não apenas deu origem à Lua, mas também, segundo os cientistas, enriqueceu nosso planeta com materiais essenciais à vida.
Esta descoberta sugere, consequentemente, que a vida poderia ser rara em outras exoplanetas semelhantes. Sem um aporte externo similar, elas poderiam carecer de ingredientes críticos. A habitabilidade no Universo poderia depender de tais eventos aleatórios.
Impressão artística de um sistema protoplanetário.
Crédito: ESO/L. Calçada
O que é um isótopo e como ele ajuda a datar eventos cósmicos?
Os isótopos são variantes de um mesmo elemento químico que diferem pelo seu número de nêutrons. Por exemplo, o carbono-12 e o carbono-14 são isótopos do carbono, com massas atômicas diferentes.
A desintegração radioativa de isótopos instáveis, como o manganês-53 estudado aqui, segue um ritmo constante chamado meia-vida. Medindo os produtos desta desintegração, os cientistas podem calcular o tempo decorrido desde a formação das rochas.
Esta técnica, a datação isotópica, é amplamente utilizada em geologia e planetologia. Ela permite reconstituir a história antiga da Terra e de outros corpos celestes com grande precisão, remontando a bilhões de anos.
No estudo atual, a análise dos isótopos revelou que Theia trouxe voláteis cedo na história da Terra, há cerca de 4,5 bilhões de anos, oferecendo mais uma peça ao quebra-cabeça das origens da vida na Terra.
Como as colisões planetárias influenciam a evolução dos sistemas estelares?
As colisões entre corpos celestes são eventos que ocorrem em sistemas planetários jovens. Elas podem fundir planetas, criar luas ou dispersar materiais no espaço, modificando radicalmente a composição e a órbita dos objetos envolvidos. Tais impactos transferem energia e matéria, redistribuindo elementos essenciais como água e compostos orgânicos. Isso pode tornar alguns planetas habitáveis ou, ao contrário, esterilizá-los.
Em nosso Sistema Solar, a colisão com Theia é um exemplo maior. Ela não apenas formou a Lua, mas também teria importado voláteis para a Terra, demonstrando como eventos catastróficos podem ter consequências benéficas a longo prazo. Compreender esses processos ajuda os astrônomos a prever a habitabilidade de exoplanetas e a entender melhor a diversidade de mundos no Universo.
Fonte: Science Advances