Cédric - Domingo 27 Outubro 2024

Um vínculo entre estresse, microbiota e câncer?

A ligação entre o estresse e o câncer colorretal se torna mais evidente. E se nossa flora intestinal desempenhasse um papel chave nisso?

Pesquisadores na China exploraram essa hipótese ao estudar os efeitos do estresse crônico na microbiota intestinal e no câncer colorretal em camundongos. O estudo deles, apresentado durante o congresso europeu de gastroenterologia de 2024, revela que o estresse perturba o equilíbrio das bactérias intestinais. Essa perturbação resulta na aceleração do crescimento tumoral nos roedores.


Imagem de ilustração Pixabay

A equipe de Qing Li, do Hospital West China, realizou uma série de intervenções específicas para entender melhor o impacto do estresse crônico sobre a microbiota e o câncer colorretal. Eles começaram administrando um potente coquetel de antibióticos, incluindo vancomicina, ampicilina, neomicina e metronidazol, para reduzir drasticamente a diversidade bacteriana nos intestinos dos camundongos. Esse tratamento visava esgotar a microbiota dos camundongos, eliminando grande parte das bactérias naturalmente presentes.


Uma vez perturbada a flora intestinal, os pesquisadores introduziram novas populações microbianas através de transplantes de microbiota fecal. Esses transplantes foram realizados a partir de camundongos saudáveis ou estressados, para estudar as diferenças entre os dois tipos de microbiota e sua influência na evolução dos tumores. Paralelamente, os camundongos foram expostos a condições de estresse crônico, recriadas em laboratório por meio de métodos de estresse psicológico e físico, para simular os efeitos prolongados do estresse na vida real.

Os resultados mostram uma redução notável nas bactérias benéficas do grupo Lactobacillus, particularmente Lactobacillus plantarum, nos camundongos estressados. Essa bactéria poderia desempenhar um papel chave na proteção contra o câncer.

De acordo com o Dr. Li, essa bactéria poderia se tornar um alvo terapêutico. Suplementações com L. plantarum poderiam restaurar o equilíbrio intestinal e reforçar as defesas naturais contra o câncer. No entanto, os cientistas destacam que esses resultados ainda precisam ser validados em pacientes. Ainda não existe uma recomendação clara para suplementação com probióticos.

Na França, os testes de microbiota com o objetivo de predição ainda não convenceram as autoridades. No entanto, a pesquisa sobre microbiota e câncer continua a crescer, abrindo novas perspectivas. Enquanto isso, mais estudos são necessários para explorar como a microbiota poderia se tornar uma aliada valiosa na luta contra o câncer colorretal.

O que é a microbiota intestinal e por que ela é crucial?

A microbiota intestinal refere-se ao conjunto de micro-organismos – bactérias, fungos, vírus – que habitam nossos intestinos. Essa comunidade complexa desempenha um papel fundamental na digestão, síntese de vitaminas e proteção contra patógenos. Ela também influencia nosso sistema imunológico e participa na regulação do nosso metabolismo.


A ligação entre microbiota e câncer colorretal é um campo em rápida expansão. Certas bactérias intestinais, como aquelas do grupo Lactobacillus, estão envolvidas na regulação das respostas imunológicas contra tumores. Um desequilíbrio dessa flora, frequentemente causado pelo estresse crônico, pode perturbar esses mecanismos e favorecer a progressão do câncer.

Estudos, como o realizado pelo Dr. Qing Li, sugerem que restaurar o equilíbrio da microbiota com bactérias benéficas, como Lactobacillus plantarum, poderia reforçar as defesas imunológicas e desacelerar a progressão tumoral. No entanto, ainda são necessárias pesquisas clínicas para validar essa abordagem em humanos.

Autor do artigo: Cédric DEPOND
Fonte: UEG
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