A China ambiciona capturar uma amostra da atmosfera de Vênus. Uma primeira missão que gera tanto espanto quanto curiosidade entre os pesquisadores.
Esta missão destaca o crescente interesse pelo planeta vizinho, que se tornou um alvo privilegiado para as grandes agências espaciais.
Visão artística de uma sonda na atmosfera de Vênus
Recentemente, a China revelou sua agenda científica espacial até 2050. Um programa audacioso que abrange a Lua, Marte, Júpiter e o Sol, com uma adição inesperada: Vênus. A missão, inicialmente prevista apenas para uma órbita ao redor do planeta, agora objetiva trazer de volta para a Terra uma amostra da atmosfera venusiana. Esta preciosa amostra poderia fornecer informações inacessíveis de outra forma.
Os cientistas chineses pretendem analisar essa atmosfera tóxica em laboratório, uma espécie de "Santo Graal" para a exploração planetária, superando em muito as capacidades de análise diretamente no local. A viabilidade técnica ainda é incerta, porém. Conceitos de balões flutuando na atmosfera hostil de Vênus têm sido considerados desde a década de 1960, mas nenhuma solução de tal magnitude foi concretizada até o momento.
A apresentação deste plano ocorreu no Congresso Internacional de Astronáutica (IAC) de Milão. O engenheiro-chefe, Guoping Li, mencionou as missões lunares, marcianas e venusianas como prioridades de curto prazo. Além de Vênus, a China também planeja o lançamento de telescópios espaciais para estudar o Sol e explorar exoplanetas, ressaltando sua crescente ambição na corrida espacial.
Esta agenda anuncia uma virada na competição espacial global. Enquanto os Estados Unidos mantêm sua liderança, a Europa poderá ficar para trás diante dos avanços chineses.
O que torna a atmosfera de Vênus tão única?
A atmosfera de Vênus é uma das mais densas e complexas do Sistema Solar. Composta por 96% de dióxido de carbono, gera um efeito estufa extremo que faz de Vênus o planeta mais quente do nosso Sistema, com uma temperatura de superfície de 475 °C.
Esta espessa atmosfera também contém camadas de nuvens de ácido sulfúrico, tornando as condições extremamente hostis a qualquer tipo de exploração. No entanto, alguns cientistas acreditam que regiões mais altas e temperadas dessa atmosfera poderiam, possivelmente, abrigar formas de vida microbiana.
Estudar amostras da atmosfera venusiana permitiria uma compreensão mais profunda da química complexa do planeta, sua formação e evolução. Os pesquisadores esperam detectar compostos orgânicos ou traços de atividade química incomum, potenciais indícios de uma antiga habitabilidade.
Uma análise na Terra proporcionaria uma precisão sem precedentes, muito mais detalhada do que as sondas poderiam fornecer diretamente no local. Os dados obtidos também poderiam ajudar a compreender melhor o efeito estufa extremo em Vênus, uma chave para estudar as atmosferas de outros exoplanetas.
Autor do artigo: Cédric DEPOND
Fonte: Space News