Os computadores quânticos hÔ muito prometem superar seus equivalentes clÔssicos, mas demonstrar concretamente essa vantagem continua sendo um grande desafio. Uma equipe de pesquisadores acaba de dar um passo significativo ao provar experimentalmente a superioridade quântica no uso da memória, abrindo novas perspectivas para essa tecnologia emergente.
Neste estudo publicado no servidor de pré-publicação
arXiv, os cientistas projetaram uma experiência engenhosa envolvendo duas entidades virtuais chamadas Alice e Bob. Alice prepara um estado quântico particular que transmite a Bob, que deve então medi-lo e identificar sua natureza antes mesmo que Alice termine sua preparação. Este procedimento foi repetido mais de 10.000 vezes para garantir a confiabilidade dos resultados, demonstrando assim a capacidade dos processadores quânticos atuais de manipular estados quânticos sofisticados.
A anĆ”lise aprofundada dos dados revelou diferenƧas espetaculares entre as abordagens quĆ¢ntica e clĆ”ssica. Para realizar essa tarefa com a mesma taxa de sucesso, um computador tradicional precisaria de pelo menos 62 bits de memória convencional. Em contrapartida, o dispositivo quĆ¢ntico usou apenas 12 qubits, essas unidades fundamentais da informação quĆ¢ntica que podem existir em mĆŗltiplos estados simultaneamente graƧas ao princĆpio da superposição quĆ¢ntica.
Os pesquisadores destacam que essa demonstração constitui a prova mais direta até hoje de que os processadores quânticos existentes podem gerar e manipular estados emaranhados de complexidade suficiente para explorar a exponencialidade do espaço de Hilbert. Este espaço matemÔtico abstrato representa o recurso de memória colossal dos computadores quânticos, onde a informação pode ser armazenada de maneira muito mais densa do que nos sistemas clÔssicos.
Este avanƧo abre perspectivas concretas para aplicaƧƵes prĆ”ticas em diversos domĆnios. Na criptografia, poderia permitir o desenvolvimento de sistemas de comunicação mais seguros, enquanto na modelagem aceleraria consideravelmente a descoberta de novos medicamentos e a concepção de materiais inovadores. Esta demonstração marca assim uma etapa importante rumo Ć exploração real do potencial quĆ¢ntico.
Os qubits e a superposição quântica
Os qubits diferem fundamentalmente dos bits clÔssicos por sua capacidade de existir em vÔrios estados simultaneamente. Enquanto um bit tradicional só pode ser 0 ou 1, um qubit pode estar em uma superposição desses dois estados.
Esta propriedade Ćŗnica permite que os computadores quĆ¢nticos processem quantidades exponenciais de informação em relação aos sistemas clĆ”ssicos. Quando vĆ”rios qubits sĆ£o combinados, o nĆŗmero de estados possĆveis aumenta de maneira exponencial, criando assim um poder de computação sem equivalente na informĆ”tica convencional.
A manipulação dos qubits baseia-se em fenÓmenos quânticos sutis que exigem condições ambientais extremas, nomeadamente temperaturas próximas do zero absoluto. A manutenção da coerência quântica, ou seja, a preservação dos estados de superposição, representa um dos principais desafios técnicos no desenvolvimento de computadores quânticos industrializÔveis.
As aplicaƧƵes potenciais desta tecnologia estendem-se muito alĆ©m do simples cĆ”lculo, tocando domĆnios como a simulação molecular, a otimização e a criptografia, onde as propriedades Ćŗnicas dos qubits oferecem vantagens decisivas.
Fonte: arXiv