Aninhada na discreta constelação da Cabeleira de Berenice, HD 110067 intriga os astrônomos com seu séquito de seis exoplanetas. A 105 anos-luz da Terra, esta estrela guia seus planetas em uma dança gravitacional de uma precisão deslumbrante. Mas surge uma pergunta: essa harmonia cósmica é fruto de um sistema estelar jovem?
As órbitas dos planetas de HD 110067 formam um balé geométrico harmônico.
Crédito: Thibaut Roger (NCCR PlanetS)
As primeiras estimativas situavam a idade dessa estrela em cerca de 8 bilhões de anos, utilizando o diagrama de Hertzsprung-Russell. Mas esse método, embora eficaz para estrelas como o Sol, pode ser menos confiável para estrelas de baixa massa. Por isso, pesquisadores decidiram revisar essa estimativa explorando outros indícios de envelhecimento estelar.
Ao analisar a atividade magnética e a velocidade de rotação de HD 110067, os cientistas identificaram marcas de uma estrela mais jovem do que o esperado. As emissões de cálcio, detectadas por meio de espectros luminosos, denunciam uma atividade intensa. Esse nível de energia é típico de estrelas ainda nas primeiras etapas de sua vida.
Em seguida, a rotação da estrela confirmou essa relativa juventude. Enquanto o Sol leva cerca de 27 dias para completar uma rotação, HD 110067 gira em apenas 20 dias. Isso sugere que ela ainda está desacelerando, um processo natural em todas as estrelas.
Essas observações permitiram à equipe estimar a idade de HD 110067 em cerca de 2,5 bilhões de anos, significativamente mais jovem do que os 8 bilhões estimados inicialmente. Essa revisão baseia-se em comparações com outras estrelas similares, como Sigma Draconis, para refinar o modelo de envelhecimento estelar.
Mas e quanto às suas exoplanetas? Sua coreografia gravitacional poderia ter se estabelecido em menos de 1 bilhão de anos, graças ao fenômeno de bloqueio por efeito de maré. Isso poderia explicar a organização meticulosa desse sistema, apesar da idade relativamente jovem de sua estrela.
No entanto, a juventude de HD 110067 levanta dúvidas sobre a presença de vida nesse sistema. Os planetas descobertos estão muito próximos da estrela para oferecer condições habitáveis, mas mundos até agora invisíveis aos nossos instrumentos podem estar presentes em sua zona temperada. O objetivo é detectá-los com nossas tecnologias atuais.
Por fim, um obstáculo persiste: estrelas jovens emitem fortes radiações X e gama. Esses raios, muito mais intensos do que os de estrelas mais antigas, tornam a aparição da vida ainda mais improvável em planetas próximos. Pesquisas mais aprofundadas, no entanto, podem revelar surpresas.
Fonte: Astronomy & Astrophysics