A luta contra o HIV continua a ser um grande desafio de saúde pública, principalmente devido à persistência de reservatórios virais que exigem tratamento antirretroviral vitalício. No entanto, algumas pessoas, chamadas de "controladores pós-tratamento", conseguem manter uma carga viral indetectável mesmo após a interrupção do tratamento.
Pesquisadores do Instituto Pasteur, do Inserm e do AP-HP, em um estudo financiado pela ANRS Doenças Infecciosas Emergentes (ANRS MIE), conseguiram identificar características genéticas imunológicas particulares de um grupo dessas pessoas.
Este trabalho oferece informações inéditas sobre os mecanismos imunológicos associados ao controle do HIV sem tratamento antirretroviral e abre novas perspectivas para o desenvolvimento de imunoterapias visando a remissão ou a cura da infecção pelo HIV. Os resultados foram publicados na revista
Med, em 28 de abril de 2025.
Apesar do tratamento antirretroviral, células infectadas pelo HIV persistem no organismo, formando os chamados reservatórios virais. Esses reservatórios são responsáveis por um rápido rebote viral em caso de interrupção do tratamento.
No entanto, alguns indivíduos controlam o vírus de forma duradoura após a suspensão do tratamento. São os "controladores pós-tratamento", descritos no estudo
VISCONTI em 2013. Essas pessoas são consideradas em remissão virológica duradoura da infecção pelo HIV.
Em alguns casos, o período de controle já ultrapassa 25 anos sem tratamento. O início precoce do tratamento, nos primeiros dias após a infecção, durante a fase aguda, parece favorecer esse controle pós-tratamento do HIV
1, mas os mecanismos imunológicos ainda eram pouco compreendidos até agora.
Este estudo, coordenado por Asier Sáez-Cirión, chefe da unidade Reservatórios Virais e Controle Imunológico no Instituto Pasteur, identificou que certas características genéticas associadas a células da imunidade inata (células Natural Killer ou NK) são muito frequentes nos controladores pós-tratamento da coorte VISCONTI.
Em uma análise retrospectiva da coorte ANRS CO6 PRIMO (onde foram analisadas as características genéticas de mais de 1600 participantes acompanhados desde o início da infecção), os cientistas confirmaram que a presença desses marcadores genéticos parece favorecer a remissão duradoura do HIV em pessoas que iniciaram o tratamento precocemente e o interromperam posteriormente por diversos motivos.
Os cientistas demonstram que a presença desses marcadores genéticos está acompanhada por populações específicas de células NK com maior capacidade de controlar a infecção. "
Esses resultados reforçam o papel das células NK na remissão prolongada do HIV e podem orientar o desenvolvimento de novas imunoterapias," comenta Asier Sáez-Cirión.
Um ensaio clínico em andamento
Para validar essas descobertas, um ensaio clínico intitulado ANRS 175
RHIVIERA01, promovido pelo Inserm / ANRS MIE, foi lançado em março de 2023. O estudo visa investigar a associação entre os marcadores genéticos das células NK e o controle pós-interrupção do tratamento.
No âmbito do ensaio, foi proposta uma interrupção do tratamento rigorosamente monitorada para 16 pessoas portadoras dessas características genéticas e que estavam em tratamento desde a infecção primária. As análises estão em andamento.
Paralelamente, os cientistas estão caracterizando a influência precisa dessas características genéticas associadas à remissão sobre o programa e a função das células NK. Essa abordagem permitiria desenvolver imunoterapias para mobilizar essas células específicas em outras pessoas vivendo com HIV.
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Essa descoberta representa um passo crucial na busca pela remissão duradoura da infecção pelo HIV. Em um contexto onde os programas de acesso a antirretrovirais estão seriamente ameaçados, novas terapias que permitam às pessoas vivendo com HIV levar uma vida normal sem a necessidade de tratamento tornam-se ainda mais necessárias e urgentes," conclui Asier Sáez-Cirión.
Fonte: Instituto Pasteur