De acordo com um estudo internacional recente, fragmentos de ADN viral antigo, outrora considerados "lixo", poderão, na verdade, desempenhar um papel na regulação dos nossos genes.
Usando um método inovador que permite traçar a história evolutiva do ADN viral, investigadores da Universidade McGill e da Universidade de Quioto descobriram sequências até então negligenciadas nas anotações genómicas.
"Se conseguirmos determinar claramente quais partes do nosso genoma são exclusivas do ser humano ou dos primatas, e quais provêm de vírus, daremos um passo em frente na compreensão do que faz a nossa humanidade, e da influência do ADN no nosso estado de saúde e no aparecimento de doenças", explica Guillaume Bourque, um dos autores principais do estudo, professor do Departamento de Genética Humana da Universidade McGill.
Cerca de 8% do genoma humano provém de vírus que infectaram os nossos antepassados há milhões de anos. Se outrora se consideravam estas sequências inúteis, sabe-se hoje que algumas delas intervêm na ativação e desativação de genes.
O novo estudo, que revela sequências precisas com potencial regulador, junta-se às evidências cada vez mais numerosas de que estas sequências há muito negligenciadas poderão desempenhar um papel importante e, por isso, deveriam ser estudadas mais de perto.
Um novo método para decifrar o ADN viral
Durante o sequenciamento do genoma humano, há 25 anos, os investigadores detetaram efetivamente o ADN viral, mas não dispunham das ferramentas necessárias para o estudar em detalhe. A equipa reexaminou, portanto, o genoma usando técnicas modernas e constatou que muitas anotações estavam desatualizadas ou incorretas.
Os cientistas desenvolveram, assim, um novo método que permite agrupar as sequências virais de acordo com a sua história evolutiva, e não apenas com base na sua semelhança. Ao traçar a evolução das sequências ao longo do tempo, observaram padrões que sugerem quais poderiam atuar na ativação e desativação dos genes.
Desta forma, numa família de ADN viral chamada "MER11", a equipa descobriu que não existiam três subtipos, como se pensava anteriormente, mas sim quatro. Um desses subtipos, o MER11_G4, particularmente ativo nas células estaminais humanas, continha um motivo de ADN específico presente apenas no ser humano e no chimpanzé. É este grupo que, de acordo com a equipa de investigação, poderá desempenhar um papel na ativação e desativação dos genes.
"A anotação atual do ADN viral no genoma não deve ser considerada definitiva. É tempo de a rever e aperfeiçoar", declara Guillaume Bourque.
Uma melhor compreensão do genoma, acrescenta, poderá ajudar os cientistas a compreender mutações genéticas ligadas ao cancro e a doenças raras.
Fonte: Universidade McGill