Cédric - Domingo 14 Julho 2024

O resfriamento artificial do clima nos EUA pode provocar uma onda de calor na Europa

Um estudo recente, publicado na Nature Climate Change, destaca as potenciais consequências negativas da geoengenharia, especialmente o clareamento de nuvens, no clima global. Essa técnica visa reduzir as temperaturas ao modificar a radiação solar. Concretamente, trata-se de dispersar água salgada no ar para resfriar localmente o clima. Mas essa operação na Califórnia pode paradoxalmente intensificar as ondas de calor na Europa.


Imagem de ilustração Pixabay

Pesquisadores da Universidade da Califórnia em San Diego e do Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica em Boulder (Colorado) utilizaram modelos climáticos para simular os impactos de duas operações de clareamento de nuvens no nordeste do Oceano Pacífico. Uma estava localizada perto da Califórnia, a outra no Alasca. Os resultados mostram que essas intervenções, embora benéficas a curto prazo para algumas regiões, poderiam ter efeitos adversos importantes em outras, notadamente na Europa.

De acordo com simulações de 2010, uma operação realizada perto do Alasca poderia reduzir em 55% o risco de calor extremo na costa oeste dos Estados Unidos. No entanto, as projeções para 2050 revelam efeitos opostos. Devido ao aquecimento global e à desaceleração da circulação meridional de retorno do Atlântico (AMOC), a operação no Alasca teria um impacto consideravelmente reduzido, enquanto a perto da Califórnia poderia até aumentar as temperaturas.

Jessica Wan, coautora do estudo, destaca a urgência de desenvolver estruturas de governança para a geoengenharia solar. "Nosso estudo mostra que o clareamento das nuvens pode ser muito eficaz para a costa oeste dos Estados Unidos se realizado agora, mas que pode ser ineficaz no futuro e provocar ondas de calor na Europa", explica ela. Ela convoca os decisores a estabelecer diretrizes de transparência e regulação, tanto a nível global quanto regional.


A falta de regulação clara também é destacada pelos trabalhos conduzidos na Austrália e nos Estados Unidos. Testes similares de clareamento de nuvens foram realizados para resfriar áreas locais como a Grande Barreira de Corais e a baía de São Francisco. Sem uma regulação apropriada, tais iniciativas podem levar a intervenções não coordenadas, com consequências globais potencialmente prejudiciais.

O estudo sublinha a importância de uma abordagem coordenada e transparente na geoengenharia, uma disciplina ainda jovem e cercada de incertezas. No futuro, a aceitabilidade social e política dessas tecnologias dependerá de sua eficácia científica, bem como de sua orientação ética e regulatória. A luta contra a mudança climática requer uma colaboração entre ciência e política para evitar intervenções conflitantes e impactos imprevistos em escala global.

Autor do artigo: Cédric DEPOND
Fonte: Nature Climate Change
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