Um estudo publicado na revista
Human Molecular Genetics por uma equipe de pesquisa da Universidade Laval e do Héma-Québec sugere que seria possível produzir in vitro glóbulos vermelhos compatíveis com todos os tipos sanguíneos desejados.
Esta prova de conceito abre a possibilidade de produzir sangue "sob medida" que poderia ser transfundido em pessoas com tipos sanguíneos raros ou em pessoas que precisam frequentemente receber transfusões de sangue, uma situação que as coloca em risco de reações imunológicas.
Imagem ilustrativa Pixabay
"A compatibilidade do sangue depende de moléculas antigênicas que se encontram na superfície dos glóbulos vermelhos. Conhecemos bem o sistema de antígenos A, B e O, assim como o do fator Rh (Rh), dos quais derivam os 8 principais tipos sanguíneos, mas existem pelo menos 45 outros sistemas de antígenos. Portanto, é difícil encontrar doadores cujo sangue seja perfeitamente compatível com o de pacientes que têm um tipo sanguíneo raro ou que têm necessidades especiais devido a uma condição de saúde", destaca o responsável pelo estudo,
Yannick Doyon, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Laval e pesquisador no Centro de Pesquisa do CHU de Québec - Universidade Laval.
A equipe de pesquisa voltou-se então para o sistema de edição genômica CRISPR-Cas para determinar se era possível inativar os genes que codificam certos antígenos da superfície dos glóbulos vermelhos. "Para estudar a questão, foi necessário trabalhar com as células precursoras dos glóbulos vermelhos provenientes da medula óssea, porque uma vez diferenciados, esses glóbulos não têm núcleo e não contêm mais DNA", explica o professor Doyon.
Os membros da equipe de pesquisa utilizaram células precursoras de glóbulos vermelhos provenientes de doadores Rh+ e de doadores A. Com a ajuda do CRISPR-Cas, inativaram genes essenciais para a produção dos antígenos associados a esses tipos sanguíneos.
Agora que a equipe de pesquisa demonstrou que é possível produzir linhagens de glóbulos vermelhos adaptadas a necessidades específicas, seu próximo desafio consiste em encontrar uma forma de produzir esses glóbulos vermelhos modificados em quantidade suficiente para realizar transfusões.
"Estamos trabalhando no desenvolvimento de
uma técnica in vitro pela qual conseguimos diferenciar células precursoras de glóbulos vermelhos em glóbulos vermelhos maduros e multiplicá-los. Esses avanços nos aproximam ainda mais da produção de glóbulos vermelhos geneticamente modificados com características desejadas em termos de compatibilidade, que poderiam ser utilizados para transfusões sanguíneas ou em pesquisa", conclui o professor Doyon.
A primeira autora do
estudo publicado na Human Molecular Genetics é Yelena Boccacci, da Universidade Laval e do Héma-Québec. Os outros signatários são Yannick Doyon, da Universidade Laval, e Nellie Dumont e Josée Laganière, do Héma-Québec.
Fonte: Universidade Laval