Cédric - Quarta-feira 26 Março 2025

O que pode ter cavado esses túneis há vários milhões de anos? ⛏️

Nos desertos escaldantes da Namíbia, de Omã e da Arábia Saudita, cientistas descobriram estruturas intrigantes no mármore e no calcário. Esses túneis microscópicos, perfeitamente alinhados, podem ser obra de uma forma de vida microbiana ainda desconhecida.

Esta descoberta, publicada na revista Geomicrobiology Journal, abre novas perspectivas sobre a capacidade da vida de se adaptar a ambientes extremos. Os pesquisadores, liderados pelo professor Cees Passchier da Universidade Johannes Gutenberg de Mainz, identificaram essas estruturas durante trabalhos de campo na Namíbia. Esses túneis, com vários milhões de anos, podem revelar interações biológicas insuspeitas entre micróbios e rochas.


A) Espécime livre apresentando alta densidade de micro-tocas (metade superior), parcialmente preenchidas com depósitos brancos.
B) Duas faixas in situ de micro-tocas de baixa densidade, preenchidas com material branco partindo de uma camada branca.
C) Superfície recém-cortada mostrando uma faixa bem desenvolvida e duas faixas menos marcadas de micro-tocas de baixa densidade partindo de uma camada branca.
D) Fragmento livre com faixas ramificadas de micro-tocas de baixa densidade. Sua face inferior é coberta por uma camada de endostromatólitos.
E) Faixas de micro-tocas ao longo de fraturas em mármore preto, Arábia Saudita.
F) Duas faixas de micro-tocas de diferentes orientações, mas com micro-tocas paralelas, em uma amostra recém-cortada.


Estruturas que desafiam explicações geológicas



Os túneis descobertos apresentam características que os distinguem claramente dos processos geológicos clássicos. Com diâmetro inferior a meio milímetro, esses microtúneis se estendem por vários centímetros e formam faixas paralelas que podem atingir dez metros de comprimento. Sua organização precisa e regularidade sugerem uma origem biológica, ao contrário das formações aleatórias criadas por erosão ou forças tectônicas. Essas estruturas, observadas pela primeira vez há 15 anos, desde então foram identificadas em várias regiões desérticas, indicando um fenômeno disseminado.

Dentro desses túneis, os cientistas identificaram um pó fino de carbonato de cálcio, um resíduo provável da atividade microbiana. Esse pó, composto principalmente de calcita, indica que os microrganismos extraíram nutrientes do mármore e do calcário, deixando para trás esse material finamente moído. Os pesquisadores supõem que esses organismos usaram o carbonato de cálcio como fonte de energia, uma hipótese reforçada pela presença de traços biológicos nas amostras. No entanto, nenhuma evidência direta, como DNA ou proteínas, pôde ser extraída para confirmar sua identidade.

Esses túneis não se assemelham a nenhuma formação geológica conhecida. Seu alinhamento paralelo e distribuição em faixas sugerem uma atividade organizada, típica de um processo biológico. Os cientistas também notaram a presença de crostas de calcrete ao redor dos túneis, adicionando uma camada de complexidade à sua formação. Essas características únicas levantam questões sobre os mecanismos biológicos em ação e sobre a natureza dos microrganismos responsáveis.

Um enigma biológico de milhões de anos


Os túneis descobertos nessas rochas datam de uma época em que o clima dos desertos atuais era mais úmido, há cerca de um a dois milhões de anos. Os pesquisadores estimam que essas estruturas se formaram em condições mais propícias à vida microbiana, bem diferentes da aridez atual. No entanto, a identidade dos microrganismos responsáveis permanece desconhecida, e nenhum traço de DNA ou proteínas pôde ser extraído das amostras. Esses túneis, profundamente enterrados na rocha, sugerem que esses organismos sobreviveram sem luz, em um ambiente extremamente hostil.


A presença de material biológico nos túneis confirma a hipótese de atividade microbiana, mas os cientistas ignoram se se trata de uma espécie ainda existente ou extinta. Esses organismos, capazes de sobreviver sem luz, podem pertencer a uma linhagem microbiana ainda não catalogada. Sua capacidade de interagir com as rochas e extrair nutrientes em condições extremas os torna um objeto de estudo para biólogos e geólogos. Os pesquisadores esperam que análises mais aprofundadas permitam identificar os mecanismos biológicos por trás desses túneis.

Essas descobertas também podem esclarecer nossa compreensão dos ecossistemas antigos e de sua evolução. Os cientistas destacam que esses microrganismos podem ter desempenhado um papel na transformação de rochas carbonatadas, influenciando assim o ciclo do carbono em escala local ou até global. Embora seu impacto exato ainda precise ser quantificado, esses trabalhos abrem novas perspectivas sobre as interações entre a vida microbiana e os processos geológicos.

Autor do artigo: Cédric DEPOND
Fonte: Geomicrobiology Journal
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