Adrien - Domingo 10 Março 2024

Pitágoras estava errado, e são os gongs javaneses que o revelam

Podemos definir a beleza dos acordes musicais além das fronteiras culturais?

Um estudo recente abala as teorias musicais ocidentais seculares, abrindo caminho para uma apreciação renovada da harmonia através do uso de instrumentos de diversas tradições culturais. Este trabalho, que desafia os princípios estabelecidos pelo filósofo da Grécia antiga Pitágoras sobre a consonância, sugere que nosso gosto por acordes perfeitos não é tão rígido quanto se acreditava anteriormente e que a exploração de instrumentos não ocidentais poderia enriquecer nossa linguagem harmônica.


As pesquisas realizadas pela Universidade de Cambridge, Princeton e pelo Instituto Max Planck para a Estética Empírica revelam duas descobertas importantes. Primeiramente, ao contrário da crença de que a beleza de um acorde provém de razões numéricas simples, os resultados indicam uma preferência por uma leve desviação destas razões, sugerindo um atrativo por certo tipo de imperfeição na música. Em segundo lugar, o estudo mostra que as relações matemáticas tradicionais perdem sua relevância quando se examinam instrumentos como o bonang, um conjunto de pequenos gongs usados no gamelão javanês, revelando padrões de consonância e dissonância até então inexplorados.


O estudo envolveu um laboratório online com mais de 4.000 participantes dos Estados Unidos e da Coreia do Sul, produzindo mais de 235.000 julgamentos humanos sobre a agradabilidade dos acordes musicais. As experiências revelaram uma preferência significativa por imperfeições menores, ou "inarmônicos", nos acordes, bem como uma apreciação instintiva pelas consonâncias produzidas por instrumentos não ocidentais, mesmo por indivíduos não treinados em música javanesa.

Essas descobertas colocam em questão a ideia de que a harmonia deve se conformar a relações matemáticas específicas e sugerem que existem muitas outras formas de harmonia a ser exploradas. Elas encorajam músicos a experimentar com instrumentos pouco familiares para descobrir novas possibilidades criativas e harmônicas. Além disso, essa pesquisa poderia inspirar produtores musicais a integrar timbres únicos, reais ou sintetizados, para fundir de forma harmoniosa os sistemas de tonalidade ocidentais com os de outras culturas.


Consonância diádica para tons complexos harmônicos (Estudo 1A, N = 198 participantes).
Crédito: Nature Communications

Esses resultados promissores abrem caminhos empolgantes para a experimentação musical, sugerindo que o uso de instrumentos diversificados pode desbloquear uma linguagem harmônica totalmente nova, intuitivamente apreciada pelos ouvintes, sem necessidade de formação musical prévia. O estudo continua, assim, a exploração de instrumentos e culturas musicais variadas para aprofundar nossa compreensão da harmonia.

Fonte: Nature Communications
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