Cédric - Quinta-feira 20 Março 2025

Pesquisadores conseguem datar esqueleto híbrido Humano-Neandertal 🦴

Descoberto em 1998, o esqueleto da criança de Lapedo, um híbrido entre humanos modernos e neandertais, há muito intriga os cientistas. Graças a um método de datação inovador, sua idade foi finalmente determinada com precisão, revelando detalhes sobre nosso passado comum.


A criança de Lapedo, cujos restos foram encontrados em um abrigo rochoso em Portugal, apresenta uma combinação única de características físicas. Seu queixo proeminente lembra os humanos modernos, enquanto suas pernas curtas e robustas lembram as dos neandertais. Essa mosaico morfológico a tornou um objeto de estudo essencial para entender as interações entre essas duas espécies. No entanto, datar seus restos com precisão se mostrou um grande desafio, devido à contaminação dos ossos e às limitações tecnológicas da época.

Uma datação inovadora para um mistério antigo



As primeiras tentativas de datação por radiocarbono, realizadas há várias décadas, forneceram resultados imprecisos, variando entre 20.000 e 26.000 anos. Essas incertezas eram devidas à contaminação das amostras por raízes e outras matérias orgânicas. Para contornar esses obstáculos, os pesquisadores utilizaram uma técnica inovadora chamada datação por radiocarbono específica de compostos (CSRA). Esse método visa um aminoácido raro, a hidroxiprolina, presente quase exclusivamente no colágeno ósseo, garantindo assim resultados confiáveis.

Graças a essa abordagem, a equipe pôde estabelecer que a criança de Lapedo viveu entre 25.830 e 26.600 anos a.C., ou seja, há cerca de 28.000 anos. Essa datação precisa confirma que a criança pertencia à cultura gravetiana, um período marcado pela coexistência entre humanos modernos e neandertais na Europa. Os pesquisadores também descobriram que alguns elementos do sepultamento, como o carvão e os ossos de veado, eram mais antigos que a criança, sugerindo práticas funerárias.

Esse avanço tecnológico abre novas perspectivas para a arqueologia. Ao reduzir os riscos de contaminação, o método CSRA permite datar com precisão amostras mal conservadas, como as da criança de Lapedo. Ele poderia ser aplicado a outros sítios pré-históricos, oferecendo uma visão mais clara dos movimentos e interações das populações antigas. Assim, essa descoberta não apenas resolve um enigma de várias décadas, mas também abre caminho para futuras pesquisas sobre nosso passado evolutivo.

Um esclarecimento sobre as interações entre espécies


A descoberta da criança de Lapedo desempenhou um papel crucial na compreensão dos cruzamentos entre humanos modernos e neandertais. Na época de sua descoberta, a ideia de tal miscigenação era controversa, pois faltavam evidências genéticas. Hoje, as análises de DNA confirmaram que essas interações realmente ocorreram, deixando uma marca no genoma das populações modernas, que contêm entre 1% e 3% de DNA neandertal. A criança de Lapedo personifica, assim, um momento crucial da história evolutiva humana.


A) Plano indicando a posição das amostras datadas, com os números de laboratório em vermelho correspondentes à sua redatação HYP.
B) Desenho baseado na fonte citada.
Créditos: (A) J.Z., (B) G. Casella.


As características morfológicas da criança, como suas pernas curtas e seu queixo proeminente, ilustram uma hibridização bem-sucedida entre as duas espécies. Esses traços sugerem que os descendentes dessas uniões eram viáveis e bem adaptados ao seu ambiente. Essa descoberta reforça a ideia de que os neandertais não simplesmente desapareceram, mas contribuíram para o patrimônio genético dos humanos modernos, especialmente na Europa.

Por fim, esse estudo destaca a importância dos métodos científicos inovadores para revisitar descobertas antigas. Graças a técnicas como a datação por radiocarbono específica de compostos, os pesquisadores podem agora explorar questões que permaneceram sem resposta por décadas. A criança de Lapedo não é apenas um testemunho do passado, mas também um lembrete de que nossa história evolutiva é muito mais interconectada do que se imaginava.

Para saber mais: O que é a datação por radiocarbono específica de compostos?


A datação por radiocarbono específica de compostos (CSRA) é uma técnica avançada que permite datar amostras arqueológicas com grande precisão. Diferentemente dos métodos tradicionais, que analisam o colágeno em massa, a CSRA visa aminoácidos específicos, como a hidroxiprolina, presentes quase exclusivamente nos ossos. Essa abordagem reduz os riscos de contaminação e oferece resultados mais confiáveis, mesmo para amostras mal conservadas.

Esse método se baseia na extração e purificação de compostos orgânicos específicos, como os aminoácidos do colágeno ósseo. Ao isolar essas moléculas, os pesquisadores podem medir seu conteúdo de carbono 14, um isótopo radioativo cuja desintegração permite determinar a idade das amostras. A hidroxiprolina, por exemplo, é um marcador ideal porque é rara na natureza fora do colágeno, garantindo que as medições não sejam distorcidas por contaminantes externos.

A CSRA já foi usada com sucesso em outros sítios pré-históricos, como a caverna de Vindija na Croácia, onde permitiu esclarecer a idade dos restos neandertais. Essa técnica abre novas perspectivas para a arqueologia, permitindo datar com precisão amostras e melhorar nossa compreensão das cronologias pré-históricas. Ela representa, assim, uma ferramenta essencial para explorar as interações entre espécies humanas e reconstruir nossa história evolutiva.

Autor do artigo: Cédric DEPOND
Fonte: Science Advances
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