Adrien - Quarta-feira 23 Abril 2025

O passado verde do maior deserto do mundo 🐪

Uma equipe internacional incluindo a UNIGE revela que o deserto da península Arábica abrigou no passado um vasto lago e rios, que moldaram sua geografia.


O Quarto Vazio (Rub al-Khali), imenso deserto da península Arábica, nem sempre foi uma extensão árida. Um estudo recente conduzido pela Universidade de Genebra (UNIGE), a Universidade de Ciência e Tecnologia Rei Abdallah (KAUST) na Arábia Saudita, a Universidade Griffith na Austrália, o Instituto de Tecnologia da Califórnia, a Universidade do Texas e a Universidade do Vale do Fraser no Canadá, revela que ele abrigou no passado um vasto lago e rios.

Essas condições favoráveis permitiram o florescimento de pradarias e savanas, facilitando a migração humana até o retorno da seca, que forçou as populações a se deslocarem. Esses trabalhos, publicados na Communications Earth & Environment, esclarecem o impacto dos ciclos climáticos nas paisagens e sociedades humanas.


O Quarto Vazio, ou Rub al-Khali em árabe, é um dos maiores desertos do mundo. Ocupando cerca de 650.000 quilômetros quadrados, principalmente no território da Arábia Saudita, ele domina a península Arábica com dunas que podem atingir até 250 metros de altura. Essa extensão ininterrupta de areia, muito árida, nem sempre foi tão inóspita. É o que revela o recente estudo de uma equipe internacional liderada pela UNIGE.

Esses pontos de água surgiram durante a "Arábia verde", um período de fortes chuvas que se estendeu de menos 11.000 a menos 5.500 anos.


Os traços marrons representam os leitos de antigos rios.
© Antoine Delaunay/Guillaume Baby/Abdallah Zaki

"Nossos trabalhos evidenciam a presença de um antigo lago, que atingiu seu auge há cerca de 8.000 anos, de rios e de um grande vale formado pela água", explica Abdallah Zaki, primeiro autor do estudo, ex-pesquisador da Seção de Ciências da Terra e Meio Ambiente da Faculdade de Ciências da UNIGE e do Instituto de Tecnologia da Califórnia, atualmente pesquisador de pós-doutorado na Jackson School of Geosciences da Universidade do Texas.

Um lago com 42 metros de profundidade


Esses pontos de água surgiram durante a "Arábia verde", um período de fortes chuvas que se estendeu de menos 11.000 a menos 5.500 anos, no final da era quaternária. "Estima-se que o lago era imenso, medindo 1.100 km² - quase duas vezes a superfície do Lago Léman - e 42 m de profundidade.

Devido ao aumento das precipitações, ele acabou cedendo, provocando uma grande inundação e escavando um vale de 150 km de comprimento no solo do deserto", detalha Sébastien Castelltort, professor em processos de superfície na Seção de Ciências da Terra e Meio Ambiente da Faculdade de Ciências da UNIGE, que liderou esses trabalhos com Abdallah Zaki no lado da UNIGE.

Com base em sedimentos e relevos traçados ao longo de 1.000 km, os cientistas estimam que as fortes chuvas, que alimentaram esses antigos pontos de água, provêm da expansão para o norte das monções africanas e indianas.

Essas fases úmidas, ligadas aos ciclos orbitais, variaram em duração conforme as regiões: vários milênios no sul contra alguns séculos no norte. Elas favoreceram a formação de pradarias e savanas, facilitando assim a expansão humana na península Arábica.

Impacto humano



"A formação de paisagens lacustres e fluviais, assim como de pradarias e savanas, teria levado à expansão de grupos de caçadores-coletores e populações pastorais no que hoje é um deserto seco e estéril. A presença de abundantes evidências arqueológicas no Quarto Vazio e ao longo de suas antigas redes de lagos e rios confirma isso", indica Michael Petraglia, professor no Australian Research Centre for Human Evolution da Universidade Griffith.

Há 6.000 anos, essa região sofreu uma forte queda nas precipitações, o que teria criado condições secas e áridas, forçando essas populações nômades a se deslocarem para ambientes mais hospitaleiros.

Esses resultados destacam o papel crucial que uma monção africana desempenhou na rápida transformação da paisagem no deserto da península Arábica, assim como nos movimentos populacionais. Essa narrativa das perturbações climáticas e das migrações humanas, inscrita nas rochas e paisagens, é fundamental para entender e prever as possíveis consequências das mudanças climáticas atuais.

Fonte: Universidade de Genebra
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