Adrien - Terça-feira 17 Junho 2025

🛡️ O paradoxo das gangues de rua

Quando se pergunta a jovens delinquentes por que se juntaram a uma gangue de rua, muitos respondem que estavam em busca de proteção.

Essa resposta pode surpreender quando se sabe que, segundo vários estudos, os membros de gangues de rua e aqueles afiliados a esses grupos correm maior risco de serem vítimas de atos violentos. Esse paradoxo intrigava Yanick Charette, professor da Escola de Serviço Social e Criminologia, que buscou entender melhor as dinâmicas de violência dentro desses grupos criminalizados.


Algumas pessoas entram para uma gangue de rua acreditando estar mais protegidas da violência. No entanto, segundo os dados, um membro de gangue tem 5 vezes mais chances de ser vítima de violência do que a população em geral.

Em um artigo publicado no Journal of Criminal Justice, ele apresenta as conclusões de uma pesquisa realizada em arquivos policiais. Ao analisar relatórios associados a atos violentos cometidos ou sofridos por 1.587 membros de gangues de rua haitianas ou pessoas afiliadas a essas gangues, ao longo de 20 anos em Montreal, Yanick Charette demonstrou que as gangues são formadas por diferentes núcleos de relações e que a violência se concentra em alguns desses núcleos.

Ser vítima de um ato violento raramente é por acaso



Vários fatores influenciam o risco de ser vítima de um ato violento, incluindo características individuais, como gênero, idade, etnia ou nível de educação. Segundo um estudo americano, jovens homens negros têm 12 vezes mais chances de serem vítimas de violência do que a população em geral. O princípio da sobreposição entre delinquente e vítima (victim-offender overlap) também explica que pessoas que já cometeram um crime violento têm maior probabilidade de se tornarem vítimas de violência. Por fim, crimes violentos geralmente são cometidos por conhecidos ou por conhecidos de conhecidos.

"Na maioria dos casos, há uma ligação entre quem comete um ato violento e sua vítima. Isso vale para violência doméstica, violência sexual e também para violência armada. Essa ligação pode ser positiva ou negativa, ou seja, o conhecido pode ser um aliado ou um rival. E a ligação pode ser direta ou indireta. Em outras palavras, se Paulo conhece Jorge, que conhece Alberto, há uma ligação entre Paulo e Alberto, mesmo que não se conheçam", explica Yanick Charette.

Núcleos de violência e núcleos de proteção


Pesquisas já mostraram que o risco de ser vítima de violência é cerca de 5 vezes maior em uma gangue de rua do que na população em geral. No entanto, esses estudos não analisaram o risco para um indivíduo com base em sua posição dentro do grupo. "Esses grupos são heterogêneos e compostos por vários microcosmos com estruturas diferentes. Nossa hipótese era que o risco não estava distribuído igualmente em uma gangue e que dependia da rede de relações que um indivíduo mantém com outros membros de um grupo criminalizado", relata o professor Charette.

Os resultados do estudo confirmam sua hipótese. Eles revelam uma forte correlação entre os microcosmos que usam violência e aqueles que a sofrem. "Assim, não há uma hierarquia entre grupos agressores e grupos vítimas. Pelo contrário, grupos com alta concentração de agressores também apresentam alta concentração de vítimas", explica Yanick Charette. Estabelecer relações com criminosos violentos ou vítimas de crimes aumenta, portanto, o risco de se tornar vítima de violência. Esse risco elevado persiste até 3 graus de distância, ou seja, a ligação entre si e o conhecido de um conhecido de um conhecido. Além disso, os efeitos diminuem significativamente. "Observamos que as retaliações entre gangues raramente ultrapassam esses 3 graus de distância", observa Yanick Charette.


Outra descoberta é que não apenas a existência de uma ligação entre pares influencia o risco, mas também a forma como essas ligações são estabelecidas. "Em uma gangue de rua, nem todos os membros cometem atos violentos. Por exemplo, há delinquentes que não participam de confrontos armados, mas que lidam apenas com o tráfico de drogas. Esses podem ver seu risco de sofrer violência diminuir, dependendo da densidade de suas ligações com a rede", explica o pesquisador.

Em um grupo, as inter-relações podem ser classificadas como abertas ou fechadas. Basta que três pessoas se conheçam mutuamente para formar um nó fechado, chamado de tríade. "Quanto mais tríades existem em um microcosmo, mais densa é a rede de relações", diz ele. E pertencer a uma rede com várias tríades oferece certa proteção social.

Um paradoxo explicado


A motivação de entrar para uma gangue como forma de proteção já não parece tão absurda e paradoxal quanto poderia parecer à primeira vista. Uma proteção – ou pelo menos uma situação muito menos arriscada do que se pensava erroneamente ser generalizada – parece de fato emergir dos microcosmos não violentos dentro das gangues de rua. Provavelmente, essa dinâmica relacional explica o paradoxo e incentiva algumas pessoas a se afiliarem a esses grupos.

Compreender melhor as dinâmicas da violência dentro das gangues de rua permite identificar melhor os membros desses grupos que estariam mais propensos a abandonar crimes violentos, reduzindo assim a escalada da violência. Com base nessas conclusões e em outros estudos similares, medidas de prevenção à violência foram implementadas no Quebec.

O estudo assinado por Yanick Charette e Ilvy Goossens, do centro de pesquisa do St. Joseph's Healthcare Hamilton, foi publicado no Journal of Criminal Justice.

Fonte: Université Laval
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