O ozônio, essa camada protetora na atmosfera, é frequentemente celebrado por seu papel de escudo contra os raios ultravioleta do Sol. No entanto, um estudo recente revela que ele também pode amplificar o aquecimento global de maneira inesperada. Os esforços globais para restaurar essa camada, embora benéficos para a saúde humana, podem ter consequências imprevistas no clima do nosso planeta.
Os pesquisadores da Universidade de Reading usaram modelos computacionais para simular a evolução da atmosfera até 2050. Eles descobriram que a recuperação da camada de ozônio, devido à eliminação gradual dos clorofluorocarbonos (CFCs) e hidroclorofluorocarbonos (HCFCs), contribuiria para um aquecimento adicional de 0,27 watt por metro quadrado. Esse valor mede a energia adicional retida pela superfície terrestre, indicando que o ozônio se tornaria o segundo fator de aquecimento após o dióxido de carbono.
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O professor Bill Collins, autor principal do estudo, explica que a proibição das substâncias nocivas ao ozônio foi uma decisão judiciosa para preservar a camada protetora. No entanto, esse reparo leva a um aumento do efeito estufa, pois o ozônio também age como um gás que aprisiona o calor. Além disso, a poluição do ar proveniente das atividades humanas, como veículos e fábricas, gera ozônio ao nível do solo, agravando tanto os problemas de saúde quanto o aquecimento.
O estudo, publicado na
Atmospheric Chemistry and Physics, segue um cenário em que os controles da poluição do ar são limitados, mas onde o Protocolo de Montreal é respeitado. Os resultados mostram que os benefícios climáticos esperados da eliminação dos CFCs e HCFCs são amplamente anulados pelo aquecimento induzido pela recuperação do ozônio.
Apesar disso, a proteção da camada de ozônio continua essencial para evitar cânceres de pele e outros efeitos nocivos dos raios UV. Os formuladores de políticas devem agora integrar esses novos dados para ajustar as estratégias de combate às mudanças climáticas, levando em conta o duplo papel do ozônio como protetor e contribuidor para o aquecimento.
O ozônio: um gás com duas faces
O ozônio é uma molécula composta por três átomos de oxigênio, formada naturalmente na estratosfera, onde absorve os raios ultravioleta nocivos do Sol. Sem essa camada, a vida na Terra estaria exposta a radiações perigosas, aumentando os riscos de doenças como o câncer.
Na troposfera, perto do solo, o ozônio é produzido por reações químicas envolvendo poluentes emitidos pelas atividades humanas, como óxidos de nitrogênio e compostos orgânicos voláteis. Esse ozônio de baixa altitude contribui para a formação de smog e agrava os problemas respiratórios no ser humano.
Como gás de efeito estufa, o ozônio aprisiona o calor na atmosfera, de forma semelhante ao dióxido de carbono, mas com uma eficiência variável conforme sua altitude. Seu impacto no clima depende, portanto, de sua localização.
O gerenciamento do ozônio requer abordagens equilibradas, visando reduzir sua formação no solo enquanto preserva a camada estratosférica, para proteger tanto a saúde humana quanto o clima.
O Protocolo de Montreal e suas implicações
Adotado em 1987, o Protocolo de Montreal é um acordo internacional que visa eliminar gradualmente as substâncias que destroem a camada de ozônio, como os CFCs e HCFCs. Esses produtos químicos, antigamente usados em refrigerantes e aerossóis, eram responsáveis por buracos na camada de ozônio, notadamente acima da Antártida.
Graças a esse acordo, a camada de ozônio mostra sinais de recuperação, com uma redução dos buracos observados e uma diminuição dos níveis de radiação UV que atingem a superfície. Isso provavelmente evitou milhões de casos de câncer de pele e outras afecções relacionadas aos UV.
No entanto, a eliminação dos CFCs e HCFCs também tem efeitos colaterais no clima, pois esses gases eram poderosos contribuidores para o efeito estufa. Sua substituição por outras substâncias, como os hidrofluorocarbonos (HFCs), introduziu novos desafios, já que os HFCs também são gases de efeito estufa potentes.
O Protocolo de Montreal ilustra como as ações ambientais podem ter consequências múltiplas, exigindo vigilância contínua e adaptações para alcançar tanto os objetivos de proteção da camada de ozônio quanto de mitigação das mudanças climáticas.
Fonte: Atmospheric Chemistry and Physics