Dirigir um veículo elétrico não significa necessariamente ser econômico em emissões de carbono. Essa constatação emerge de um estudo realizado na Finlândia. A razão: o perfil típico dos proprietários desses carros, que tendem a consumir mais do que a média.
Este estudo, publicado no
PLOS Climate, analisou as respostas de 3.857 pessoas que participaram do questionário CLIMATE NUDGE. Esse levantamento buscava entender as escolhas de vida dos finlandeses e suas opiniões sobre os veículos elétricos (VE). Verificou-se que os proprietários de VE são, em média, mais ricos e mais bem-educados.
Imagem de ilustração Pixabay
Uma das conclusões mais surpreendentes deste estudo é que, apesar da compra de um veículo menos poluente, esses proprietários não conseguem reduzir sua pegada de carbono. Por quê? Porque seus modos de consumo global são muito mais intensivos em energia do que os dos outros motoristas.
O estudo destaca que essas pessoas percorrem, em média, mais quilômetros por ano, e não é só isso. Elas utilizam mais eletricidade, muitas vezes proveniente de usinas a carvão, e compram mais bens, dos quais a fabricação gera emissões de gases de efeito estufa. Apesar dos inegáveis benefícios dos VEs, os pesquisadores concluem que isso não é o suficiente para compensar a pegada de carbono mais ampla das classes abastadas. Isso destaca uma realidade frequentemente esquecida: o consumo de energia não se limita ao uso de um carro.
A equipe, composta por psicólogos e um economista, insiste em outro ponto: a transição para os VEs, embora essencial, deve ser acompanhada por mudanças mais amplas nos comportamentos de consumo para reduzir realmente as emissões. De fato, os carros elétricos eliminam as emissões diretas de gases de efeito estufa durante a condução, mas seu impacto deve ser avaliado em um contexto mais amplo. A produção desses veículos e seu carregamento continuam dependendo, em parte, de energias fósseis.
Assim sendo, este estudo nos convida a repensar nossa abordagem da mobilidade sustentável. Não é apenas o carro que deve evoluir, mas todo o conjunto de hábitos de consumo relacionados ao estilo de vida. Os pesquisadores, portanto, fazem um apelo para uma conscientização coletiva.
O que é a pegada de carbono?
A pegada de carbono é uma medida da quantidade total de dióxido de carbono (CO2) e de outros gases de efeito estufa emitidos direta ou indiretamente pelas atividades humanas. É expressa em toneladas de CO2 equivalente (CO2e) e inclui as emissões relacionadas ao consumo de energia, aos deslocamentos, à produção de bens e serviços, bem como ao uso de recursos naturais.
A pegada de carbono não se limita às emissões diretas como as dos carros ou indústrias. Ela também considera as emissões indiretas geradas pela fabricação de produtos, seu transporte, e até seu reciclo. Por exemplo, produzir eletricidade para carregar um veículo elétrico pode resultar em emissões se essa eletricidade vier de fontes não renováveis, como usinas a carvão.
Esse conceito é essencial para entender o impacto dos modos de vida modernos nas mudanças climáticas. Quanto maior o consumo de energia e recursos, maior a pegada de carbono. O objetivo, portanto, é reduzir essa pegada para limitar os efeitos das mudanças climáticas.
Fonte: PLOS Climate