Adrien - Quarta-feira 12 Novembro 2025

🧠 Os chimpanzés mudam de opinião e crenças: uma descoberta sobre a inteligência

Os chimpanzés podem muito bem compartilhar conosco capacidades cognitivas que se acreditavam reservadas aos humanos. Um estudo recente revela que esses primatas são capazes de modificar suas convicções diante de novas evidências, uma faculdade que normalmente associamos ao pensamento racional humano.

A equipe de pesquisa, composta por cientistas internacionais incluindo Emily Sanford da Universidade da Califórnia em Berkeley, conduziu seus experimentos no santuário de chimpanzés da ilha de Ngamba em Uganda. Os pesquisadores apresentaram aos animais duas caixas, uma contendo comida. Após receberem uma primeira pista sugerindo a localização da recompensa, os chimpanzés obtiveram depois uma informação mais confiável indicando a outra caixa. A maioria dos primatas mudou então sua escolha inicial para se voltar para a nova opção.


Crédito: Dr Jake Brooker.


Para garantir que esses comportamentos refletiam realmente um raciocínio elaborado e não reflexos simples, os cientistas usaram modelos computacionais. Essas análises permitiram eliminar explicações alternativas como a tendência a privilegiar a última informação recebida ou a seguir o sinal mais evidente. Os resultados mostram claramente que as decisões dos chimpanzés correspondem a estratégias racionais de atualização de opiniões.

Esta descoberta questiona a visão tradicional segundo a qual a racionalidade seria apanágio exclusivo do ser humano. Os pesquisadores observam que esta capacidade de revisar suas convicções diante de novas evidências aparece nas crianças por volta dos quatro anos de idade, o que estabelece uma ponte entre o desenvolvimento cognitivo humano e as competências dos grandes símios.

As implicações desses trabalhos ultrapassam o quadro da primatologia. Compreender como os primatas revisam suas crenças poderia influenciar nossa abordagem da educação precoce e mesmo contribuir para o desenvolvimento de sistemas de inteligência artificial mais eficientes. A equipe está agora estendendo suas pesquisas a crianças pequenas de dois a quatro anos, procurando estabelecer comparações diretas entre o desenvolvimento cognitivo humano e as capacidades dos chimpanzés.

Emily Sanford espera estender essas investigações a outras espécies de primatas para mapear as capacidades de raciocínio através dos diferentes ramos evolutivos. Essas pesquisas se inscrevem numa perspectiva mais ampla que reconhece que os animais desenvolvem estratégias inteligentes e adaptativas para navegar em ambientes difíceis, mesmo que não dominem os conceitos científicos tais como os concebemos.

A revisão racional das crenças


A revisão racional das crenças designa a capacidade de um indivíduo modificar suas convicções iniciais quando confrontado com novas informações mais confiáveis ou mais completas. Este processo cognitivo implica não apenas reconhecer o valor probatório dos novos dados, mas também recalcular mentalmente as probabilidades associadas a diferentes hipóteses.


No ser humano, esta capacidade se desenvolve progressivamente durante a infância e atinge sua plena maturidade por volta dos quatro anos de idade. Ela constitui um fundamento essencial da aprendizagem e da adaptação a ambientes mutáveis. Os pesquisadores em ciências cognitivas estudam este mecanismo há décadas para compreender como integramos informações contraditórias.

No domínio da inteligência artificial, a modelagem da revisão das crenças permite criar sistemas mais robustos capazes de se adaptar a dados novos. Os algoritmos bayesianos, por exemplo, se inspiram diretamente deste princípio ao atualizar as probabilidades em função da chegada de novas observações.

A descoberta de que os chimpanzés compartilham esta capacidade mostra que as raízes evolutivas do pensamento racional são mais antigas do que se pensava. Isto abre perspectivas novas para compreender a emergência da cognição complexa no reino animal.

Fonte: Science
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