O Tyrannosaurus rex, um dos predadores mais icônicos da história da vida na Terra, esconde origens distantes entre a Ásia e a América do Norte. Um estudo recente traça o percurso de seus ancestrais através de antigas paisagens hoje submersas.
Esta pesquisa, realizada por uma equipe internacional, revela que o T. rex tinha raízes asiáticas antes de se estabelecer na América do Norte. Os cientistas reconstituíram essa epopeia evolutiva combinando fósseis, modelos climáticos e análises filogenéticas, abrindo uma janela para as dinâmicas ecológicas do Cretáceo.
Uma migração transcontinental
Os tiranossaurídeos, família do T. rex, teriam atravessado o estreito de Bering há mais de 70 milhões de anos. Essa ponte terrestre, então temperada, ligava a Ásia à América do Norte. Os modelos sugerem um parentesco próximo entre o T. rex e espécies asiáticas como o
Tarbosaurus.
Apesar da abundância de fósseis norte-americanos, o elo perdido pode estar escondido na Ásia. Os paleontólogos destacam que os predadores no topo da cadeia alimentar, menos numerosos, deixam menos vestígios. Essa raridade complica a reconstituição de sua história, mas ferramentas estatísticas ajudam a suprir parcialmente essas lacunas.
O estudo também contesta a hipótese de uma origem norte-americana direta. Um fóssil do Novo México, inicialmente atribuído a um ancestral do T. rex, estaria mal datado. Os autores defendem uma evolução local em Laramídia, uma antiga região ocidental da atual América do Norte.
Clima e gigantismo: uma correlação indireta
O Cretáceo Superior testemunhou um resfriamento global após um pico térmico há 92 milhões de anos. Essa transição coincide com o surgimento dos tiranossaurídeos e dos megaraptores, duas linhagens de predadores gigantes. No entanto, a ligação entre temperatura e tamanho permanece tênue.
O desaparecimento dos carcharodontossaurídeos, concorrentes diretos, pode ter liberado nichos ecológicos. Os tiranossauros e megaraptores, mais adaptados ao frio, teriam aproveitado esse vazio. Seu gigantismo talvez reflita uma resposta à maior disponibilidade de presas massivas, como os Triceratops.
Essa conquista norte-americana fez do T. rex um dos últimos grandes terópodes do Cretáceo. Seu sucesso evolutivo ilustra como migrações e adaptações podem moldar o destino de uma espécie, transformando-a em um predador emblemático.
Autor do artigo: Cédric DEPOND
Fonte: Royal Society Open Science