Pesquisadores da Universidade Cornell realizaram um avanço notável ao criar o primeiro mapa das cores produzidas pelos microorganismos que povoam as nuvens terrestres. Esses pequenos seres vivos, como certas bactérias e algas, fabricam pigmentos coloridos para se protegerem dos raios ultravioleta intensos presentes em altitude. Esta assinatura colorida única poderia agora servir como referência para detectar formas de vida similares nas atmosferas de outros mundos.
A ideia desta pesquisa veio da astrobióloga Ligia Coelho, que notou que a comunidade científica astronômica ignorava amplamente a existência destes ecossistemas aéreos. Ela explica que estes pigmentos biológicos são universais na Terra, produzidos por uma grande variedade de organismos para enfrentar condições difíceis. Sua presença nas nuvens poderia portanto revelar processos biológicos ativos em planetas distantes.
Representação artística de uma exoplaneta semelhante à Terra com uma cobertura de nuvens abrigando uma vida colorida.
Crédito: Adam B. Langeveld/Instituto Carl Sagan. Adaptado de NASA/Ames/JPL-Caltech.
A equipe modelou como estas assinaturas coloridas apareceriam nas nuvens de exoplanetas. Os resultados mostram claramente que nuvens abrigando vida microbiana apresentariam características espectrais distintas daquelas que não contêm. Esta diferença abre caminho para um novo método de detecção.
Os telescópios de nova geração, como o Observatório dos Mundos Habitáveis da NASA e o Very Large Telescope europeu, estarão equipados para buscar estas assinaturas coloridas. Lisa Kaltenegger, diretora do Instituto Carl Sagan, destaca que esta abordagem transforma completamente nossa perspectiva: o que antes era considerado um obstáculo poderia se tornar uma vantagem na busca por vida extraterrestre.
Esta descoberta amplia consideravelmente as possibilidades de detecção de vida no Universo. Mesmo em planetas onde o céu está constantemente coberto, como algumas super-Terras potencialmente habitáveis, os astrônomos poderiam agora buscar indícios biológicos na própria composição das nuvens.
Espectroscopia e a detecção de vida
A espectroscopia é uma técnica que analisa a maneira como a matéria interage com a luz. Cada substância, seja mineral ou orgânica, absorve e reflete a luz de forma única, criando uma espécie de impressão digital luminosa. Este método é particularmente útil em astronomia para estudar a composição de objetos celestes sem precisar se aproximar deles.
No caso das exoplanetas, os astrônomos usam a espectroscopia para analisar a luz que atravessa sua atmosfera ou que é refletida por sua superfície. Ao decompor esta luz em suas diferentes cores, eles podem identificar os elementos e compostos presentes. A presença de certas combinações de gases ou de assinaturas espectrais particulares pode indicar atividade biológica.
A novidade trazida por esta pesquisa reside na aplicação desta técnica às próprias nuvens. Ao estabelecer modelos espectrais para os microorganismos das nuvens terrestres, os pesquisadores criam uma base de comparação para observações futuras. Os telescópios poderão assim buscar assinaturas similares nas atmosferas de outros planetas.
Este método espectral poderia detectar a vida mesmo em condições onde outras abordagens falhariam. Nos planetas cuja superfície é invisível devido a uma cobertura de nuvens permanente, a análise espectral das nuvens poderia revelar a presença de organismos vivos diretamente na atmosfera, ampliando assim consideravelmente o campo de detecção dos mundos potencialmente habitáveis.
Fonte: The Astrophysical Journal Letters