Os organoides cerebrais, pequenas estruturas cultivadas a partir de células-tronco, são frequentemente descritos como modelos simplificados do cérebro humano. Eles não possuem a complexidade de um cérebro completo, o que explica por que há muito tempo escapam a uma regulamentação rigorosa.
No entanto, alguns pesquisadores acreditam que esses organoides poderiam, num futuro próximo, atingir um nível de consciência elementar, capaz de sentir sensações como dor ou prazer.
De células-tronco a organoides
As células-tronco são capazes de se diferenciar em muitos tipos celulares especializados, como os neurônios. Em laboratório, elas são usadas para criar organoides: modelos em miniatura de órgãos.
Os organoides cerebrais são obtidos cultivando células-tronco humanas em condições controladas, até que formem estruturas semelhantes a certas partes do cérebro. Esses modelos servem para estudar o desenvolvimento neuronal ou certas doenças sem recorrer diretamente a tecidos humanos ou animais vivos.
Eles não são cérebros completos: faltam-lhes redes de conexões extensas, suprimento sanguíneo natural e muitas funções essenciais. Mas reproduzem alguns aspectos do funcionamento celular e permitem observar como os neurônios se comunicam e se organizam.
De organoides à consciência
A consciência continua difícil de definir, mesmo no ser humano. É frequentemente associada à autoconsciência ou à capacidade de vivenciar experiências subjetivas. No caso dos organoides, trataria-se de uma forma mínima de consciência, limitada a sensações elementares. Os pesquisadores utilizam hoje métodos indiretos, como a análise da atividade elétrica, para inferir sua presença, mas essas ferramentas não fornecem provas definitivas, como lembram especialistas em revistas como
Patterns.
Os avanços recentes permitem vislumbrar organoides mais sofisticados, integrando vasos sanguíneos artificiais ou células adicionais como as micróglias. Tais melhorias poderiam permitir o surgimento de estruturas capazes de gerar atividade consciente, obrigando a revisar as regras éticas atuais. A
International Society for Stem Cell Research já reconhece que as diretrizes existentes podem não ser suficientes diante dos progressos futuros.
A questão ética torna-se então central: o que fazer se um organoide desenvolver pensamentos ou sentir alguma forma de dor? Nesse caso, essas estruturas poderiam ser consideradas como entidades morais, da mesma forma que os animais de laboratório. Vários cientistas defendem, portanto, uma regulamentação similar, com critérios para avaliar a consciência e adaptar a legislação.
Fonte: Patterns