Adrien - Sexta-feira 27 Setembro 2024

Micróbios em órbita: o efeito dos voos espaciais na saúde

Cientistas constataram que as viagens espaciais alteram profundamente o microbioma intestinal, e suas observações podem orientar as próximas missões no espaço.

O estudo inédito, liderado por um pesquisador da Universidade McGill em colaboração com a University College Dublin, a base de dados GeneLab da Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço (NASA) e um consórcio internacional, oferece o retrato mais detalhado até hoje sobre os impactos dos voos espaciais na flora intestinal.


Imagem Wikimedia

Publicado na npj Biofilms and Microbiomes, o estudo aborda as mudanças ocorridas ao longo de três meses no microbioma intestinal, no cólon e no fígado de camundongos a bordo da Estação Espacial Internacional, e baseia-se em tecnologias genéticas de ponta.

Os autores do estudo observaram variações significativas em algumas bactérias intestinais, compatíveis com mudanças nos genes hepáticos e intestinais dos camundongos, o que sugere que os voos espaciais podem deprimir o sistema imunológico e alterar o metabolismo. Segundo os pesquisadores, trata-se de um avanço na compreensão dos possíveis efeitos de uma missão espacial prolongada na saúde dos astronautas.


"Os voos espaciais resultam em efeitos importantes no organismo dos astronautas, mas ainda não compreendemos por completo todos os mecanismos. As tecnologias avançadas que empregamos para estudar simultaneamente as bactérias e os genes intestinais nos permitem ver padrões que podem explicar essas mudanças e levar ao desenvolvimento de medidas preventivas para as próximas missões", afirmou Emmanuel Gonzalez, autor principal do estudo e especialista em bioinformática do microbioma no Centro de Pesquisa sobre o Microbioma da Universidade McGill e no Centro Canadense de Genômica Computacional.

O estudo faz parte de um dossiê da Nature Portfolio intitulado The Second Space Age: Omics, Platforms, and Medicine across Space Orbits, constituindo a maior publicação até hoje sobre descobertas em biologia espacial.

Os pesquisadores indicam que suas constatações poderão contribuir para o sucesso das futuras missões espaciais, quer seja para estabelecer uma presença a longo prazo na Lua ou para enviar seres humanos a Marte.

Impactos na saúde terrestre

Os resultados também se aplicam à saúde das pessoas que nunca deixarão o nosso planeta, explica Nicholas Brereton, autor principal do estudo e professor na University College Dublin.

"Essas descobertas destacam a ligação crucial entre as bactérias intestinais e a saúde geral, particularmente para o gerenciamento de energia e metabolismo pelo organismo. É primordial entender o efeito dos voos espaciais nesse equilíbrio delicado, e não apenas para a saúde dos astronautas: essa compreensão pode também gerar avanços médicos na Terra", afirmou.

A pesquisa foi iniciada pelo Grupo de Trabalho para Análise de Micróbios do GeneLab da NASA. O GeneLab é financiado pelo programa de Biologia Espacial (diretoria de Missão Científica, divisão de Ciências Biológicas e Físicas) da NASA.

O artigo "Spaceflight alters host-gut microbiota interactions", por Gonzalez, E. et al., foi publicado em agosto de 2024 na npj Biofilms and Microbiomes. DOI: 10.1038/s41522-024-00545-1

Fonte: Universidade McGill
Ce site fait l'objet d'une déclaration à la CNIL
sous le numéro de dossier 1037632
Informations légales