Sob nossos pés, a quilômetros de profundidade, a vida está escondida há bilhões de anos. Uma descoberta recente pode revolucionar nossa visão sobre as origens da vida na Terra.
Pesquisadores japoneses revelaram a existência de micróbios vivos presos em uma rocha com 2 bilhões de anos, uma descoberta inesperada proveniente do complexo ígneo de Bushveld, na África do Sul.
Aparência da amostra de testemunho de perfuração estudada e inspeção visual da contaminação pelo fluido de perfuração.
- A: Fotos da amostra de testemunho.
- B: Fotos após a abertura das fraturas.
- C: Fragmento de rocha coletado para uma análise posterior sem iluminação UV.
- D: Fragmento de rocha com iluminação UV.
- E: Superfície de fratura sem iluminação UV.
- F: Superfície de fratura com iluminação UV.
As setas amarelas em B e C apontam para a fratura, e o retângulo amarelo em E indica a área mostrada em F.
Essa rocha, extraída a 15 metros de profundidade, abrigava microrganismos incrivelmente antigos. Eles superam em 1,9 bilhão de anos os registros anteriores. É a primeira vez que formas de vida tão antigas são identificadas em condições tão estáveis.
O complexo de Bushveld, rico em platina e outros metais, constitui um ambiente único. Devido à sua estabilidade geológica, as microfissuras dessas rochas conservaram colônias microbianas intactas. Os cientistas, com novas técnicas de imagem, confirmaram que esses micróbios não eram contaminações recentes. Eles se certificaram de sua autenticidade examinando cuidadosamente seu habitat e suas proteínas.
Essa descoberta pode nos iluminar sobre as primeiras etapas da evolução da vida na Terra. A estabilidade dos ambientes subterrâneos pode ter permitido que esses microrganismos sobrevivessem sem grandes mutações ao longo de milhões de anos.
As implicações vão além do nosso planeta. Os pesquisadores esperam que as amostras coletadas em Marte pela missão Perseverance possam revelar formas de vida semelhantes, reforçando assim a busca por vida extraterrestre.
Visualização de células microbianas após coloração com SYBR Green I.
- A: Imagens microscópicas de fluorescência de uma grande área.
- B: Imagens de uma pequena área.
As setas rosas em A apontam para as veias.
Yohey Suzuki, principal autor do estudo, expressou seu entusiasmo. Este grande avanço inaugura uma nova era na compreensão dos mundos subterrâneos e do seu potencial para abrigar vida. A história da Terra, escondida em suas profundezas, também pode ser a história de outros planetas. A busca por vida antiga está apenas começando.
Como os micróbios podem sobreviver por bilhões de anos debaixo da terra?
Os micróbios encontrados em rochas com bilhões de anos sobrevivem graças a mecanismos de desaceleração metabólica. Sua atividade biológica é extremamente baixa, permitindo que subsistam com recursos mínimos. Este modo de vida é frequentemente chamado de "vida em câmera lenta", comparável a uma forma de hibernação.
Nas profundezas da Terra, esses micróbios se alimentam dos recursos disponíveis no ambiente imediato, como compostos orgânicos e inorgânicos contidos na argila. Esse isolamento, combinado com condições geológicas estáveis, impede sua degradação, permitindo que sobrevivam por períodos extremos.
O que é o complexo ígneo de Bushveld?
O complexo ígneo de Bushveld (BIC) é uma enorme formação geológica na África do Sul, formada há cerca de 2 bilhões de anos. Ele se originou quando magma em fusão resfriou lentamente sob a superfície terrestre. Com uma área de 66.000 km², ele contém uma grande concentração de metais preciosos, incluindo cerca de 70% da platina mundial.
Devido à sua estabilidade geológica ao longo do tempo, o complexo ígneo de Bushveld permitiu a preservação de microrganismos antigos em fraturas rochosas. Este sítio tornou-se um local privilegiado para o estudo de formas primitivas de vida e da evolução biológica terrestre.
Autor do artigo: Cédric DEPOND
Fonte: Microbial Ecology