As nuvens de gás que dão origem às estrelas não são visíveis a olho nu. Mas um novo mapa tridimensional revela finalmente estas regiões escondidas da nossa Galáxia. Fruto de um trabalho paciente, promete esclarecer o papel das estrelas mais massivas no seu ambiente e na formação estelar.
Este avanço baseia-se nos dados do telescópio espacial Gaia, lançado pela Agência Espacial Europeia em 2013. A sua missão consistia em medir com uma precisão sem precedentes a posição e o brilho de mais de mil milhões de estrelas. Os investigadores exploraram assim a atenuação da luz causada pelas poeiras interestelares, bem como as distâncias das estrelas quentes do tipo O, para traçar o mapa mais detalhado jamais obtido destes berçários cósmicos.
Uma cartografia inédita dos berçários estelares
O novo mapa cobre uma esfera de 4.000 anos-luz centrada no Sol. Baseia-se na análise de 44 milhões de estrelas comuns e de 87 estrelas do tipo O. Estes astros massivos, raros e luminosos no ultravioleta, permitem localizar as zonas onde o hidrogénio está ionizado, um indício de nascimento estelar.
Os investigadores dispõem agora de uma visão em três dimensões de regiões célebres, como a Nebulosa da Goma, a Nebulosa da América do Norte, a Nebulosa da Califórnia e a superbolha Orion-Erídano. Estas imagens já não se limitam a uma simples projeção plana, mas restituem os volumes e a estrutura interna destas nuvens.
Segundo a equipa, o mapa constitui o primeiro modelo de distribuição do gás ionizado que corresponde às observações realizadas por outros instrumentos. Oferece, portanto, uma reconstituição fiável de como seria a nossa porção da Via Láctea vista de cima.
Vídeo do mapa 3D mais preciso dos berçários estelares da Via Láctea
O que o mapa revela sobre a nossa Galáxia
Os investigadores constatam que certas regiões parecem abertas, deixando escapar fluxos de gás e poeira numa imensa cavidade. Isto ilustra a ação das radiações emitidas pelas estrelas massivas, capazes de remodelar o espaço circundante.
O estudo mostra também como as interações entre o gás frio e o gás aquecido pelas radiações desenham a estrutura da nossa vizinhança galáctica. Estes processos contribuem não só para destruir nuvens, mas também para criar novas, favorecendo a formação de estrelas.
A longo prazo, os cientistas esperam estender a cartografia muito para além dos 4.000 anos-luz, quando as futuras publicações de dados do Gaia estiverem disponíveis. A próxima, ainda mais rica, deverá permitir prolongar este mergulho nos berços estelares.
Autor do artigo: Cédric DEPOND
Fonte: ESA