Redes de vales em Marte, formadas pela água que fluía há mais de 3 bilhões de anos, sempre foram consideradas evidências cruciais da presença de água líquida no planeta vermelho. Alexander Morgan, pesquisador do Planetary Science Institute, utilizou crateras de impacto para determinar escalas de tempo máximas de sua formação, oferecendo novas perspectivas sobre a história climática de Marte.
Detalhe de uma rede de vales não nomeada em Marte. As crateras são marcadas com círculos azuis e vermelhos. As crateras em vermelho são posteriores à rede de vales, enquanto aquelas em azul são anteriores. Círculos pontilhados indicam uma certeza menor de sobreposição com a rede de vales. A linha preta pontilhada representa a rede de vales mapeada.
(a) visão geral do sistema de vales. A bacia inteira é destacada em branco; as áreas mais elevadas com menos erosão são realçadas em preto.
(b) detalhe da área indicada em (a).
Crédito: MOLA MEGDR, NASA/USGS; THEMIS mosaic, ASU/NASA/USGS; CTX, NASA/MSSS. Alexander Morgan explica que as condições que permitiam a existência de rios em Marte eram provavelmente muito intermitentes, alternando entre longos períodos de aridez e breves episódios de atividade fluvial. Essas conclusões são baseadas em estudos das taxas de erosão na Marte primitiva e sugerem que os rios marcianos erodiam muito lentamente, num ritmo similar ao de certas partes do deserto de Atacama no Chile.
Uma das hipóteses é que a erosão poderia ter sido impedida pela acumulação de grandes seixos no leito dos rios, prevenindo uma erosão mais intensa. Outra explicação seria que os rios corriam muito raramente, talvez menos de 0,001% do tempo, sendo ativados principalmente durante episódios de aquecimento causados pela atividade vulcânica ou por variações na inclinação axial e na órbita do planeta em torno do Sol.
O estudo de Morgan oferece uma perspectiva mais matizada sobre o clima de Marte, afastando-se de descrições demasiadamente generalistas como "quente e úmido" ou "frio e congelado". Tal como a Terra, Marte também passou por significativas variações climáticas ao longo da sua história.
Esta pesquisa também destaca a semelhança entre os rios marcianos e terrestres em termos de variabilidade a curto e longo prazo. Na Terra, os rios são influenciados pela chuva ou pelo derretimento de neve na montante a curto prazo e pelas mudanças climáticas a longo prazo. Em Marte, os rios teriam funcionado de modo semelhante, com variações a curto prazo devido a tempestades ou ao derretimento de neve, e variações a longo prazo devidas às alterações na rotação e na órbita do planeta ao redor do Sol.
Fonte: Earth and Planetary Science Letters