A qualidade e a constância dos laços sociais tecidos ao longo da existência parecem imprimir a sua marca no nosso organismo, muito além do simples bem-estar psicológico.
Uma investigação científica recente revela que o capital relacional, acumulado desde a infância até à idade adulta, poderá modular a velocidade a que as nossas células envelhecem. Esta perspectiva abre possibilidades inéditas para compreender os mecanismos biológicos influenciados pelo nosso ambiente humano.
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O estudo, publicado na
Brain, Behavior and Immunity – Health, baseou-se nos dados de mais de 2100 participantes. Os investigadores desenvolveram a noção de "vantagem social cumulativa", uma medida que reflete a riqueza e a estabilidade dos apoios afetivos, familiares e comunitários ao longo do tempo. Esta abordagem holística permite ir além das análises que consideravam apenas um fator isolado, como o estado civil por exemplo.
Os marcadores biológicos de um envelhecimento retardado
A equipa de cientistas comparou vários perfis sociais com indicadores do envelhecimento biológico. Eles examinaram nomeadamente relógios epigenéticos, que estimam a idade fisiológica real das nossas células a partir de modificações do ADN. Os resultados indicam que os indivíduos que beneficiam de uma vantagem social cumulativa elevada apresentam uma idade biológica frequentemente inferior à sua idade cronológica. Esta diferença é particularmente notável nos relógios GrimAge e DunedinPACE, reconhecidos pela sua fiabilidade.
Um segundo marcador estudado foi a inflamação sistémica, um fenómeno associado a numerosas patologias ligadas à idade. As análises mostraram uma correlação clara entre uma rede social sólida e níveis reduzidos de moléculas pró-inflamatórias, em primeiro lugar a interleucina-6. Esta diminuição da inflamação crónica representa um benefício sanitário importante, potencialmente protetor contra as doenças degenerativas.
Em contrapartida, o estudo não evidenciou uma ligação significativa entre a vida social e os marcadores neuroendócrinos do stress a curto prazo, como o cortisol. Os investigadores propõem que o impacto das relações se manifestaria mais em processos biológicos lentos e cumulativos, como o desgaste epigenético ou a inflamação, em vez da resposta hormonal imediata ao stress.
A acumulação benéfica das conexões humanas
A noção de acumulação é central nestes trabalhos. Não se trata de um efeito instantâneo, mas de um benefício que se constrói pacientemente, como uma poupança. O calor parental percebido durante a infância, a integração num bairro, a pertença a uma comunidade (religiosa ou outra) ou ainda o apoio emocional estável na idade adulta são tantos depósitos que, em conjunto, compõem um património relacional com dividendos biológicos. A regularidade e a diversidade dos aportes parecem primordiais.
As implicações destas descobertas têm um alcance coletivo. Elas sublinham a importância das políticas públicas que favorecem a coesão social, o acesso à educação e a redução das desigualdades. Com efeito, as condições socioeconómicas moldam diretamente a capacidade dos indivíduos para construir e manter redes relacionais sólidas e duradouras, influenciando em última análise a sua saúde a longo prazo.
Para terminar, esta investigação contribui para esbater a fronteira entre o social e o biológico. Ela demonstra que as nossas interações, os nossos sentimentos de pertença e a nossa história relacional se inscrevem fisicamente em nós, influenciando o ritmo fundamental do nosso relógio interno. Investir nos nossos laços, é também investir na nossa saúde futura.
Autor do artigo: Cédric DEPOND
Fonte: Brain, Behavior and Immunity – Health