Um avanço científico recente revela que a Lua era rica em água há cerca de 4 bilhões de anos. Esta descoberta, liderada por Tara Hayden, pesquisadora pós-doutoral na Universidade de Western Ontario, abre uma nova janela para a evolução da Lua e pode influenciar as futuras missões lunares.
O estudo centrou-se num meteorito lunar, um fragmento da superfície da Lua, onde Hayden descobriu apatite, um mineral comum. Esta descoberta permite uma análise sem precedentes de uma época pouco conhecida da Lua, quando esta ainda estava em fase de fusão. Os resultados sugerem que a crosta lunar daquela época continha mais água do que os cientistas imaginavam anteriormente.
As amostras lunares trazidas pelas missões Apollo nas décadas de 1960 e 1970 inicialmente levaram a crer que a Lua era extremamente pobre em água. Contudo, a descoberta em 2008 de quantidades significativas de água na coleção de amostras Apollo questionou essa hipótese. Desde então, meteoritos lunares que chegaram à Terra continuaram a revelar uma Lua longe de ser árida.
Hayden destaca que as amostras de Apollo foram coletadas apenas em 5% da superfície lunar. Portanto, os meteoritos lunares oferecem uma oportunidade única de estudar regiões inexploradas da Lua. Concentrando-se na apatite encontrada em anortositos ferroanos, rochas lunares formadas diretamente do Oceano Magmático Lunar, Hayden pôde estudar diretamente esta fase da evolução lunar.
Estas descobertas ocorrem num momento crucial para a ciência lunar, enquanto a humanidade se prepara para retornar à Lua com a missão Artemis. A água congelada na superfície lunar poderá desempenhar um papel vital no suporte aos astronautas e na produção de hidrogênio como combustível para as viagens de retorno à Terra ou para outros destinos no sistema solar.
A pesquisa sobre as rochas lunares é descrita num artigo publicado em
Nature Astronomy. Ela abre novas perspectivas sobre a presença de água na Lua, desafiando as ideias prévias e sugerindo que a superfície lunar pode conter mais água do que se pensava anteriormente.
Apatite, um mineral chave para entender a história da água na Lua
Apatite é um mineral que desempenha um papel crucial na compreensão da história da água na Lua. Trata-se de um grupo de fosfato de cálcio com a fórmula química Ca₅(PO₄)₃(F,Cl,OH), podendo incluir flúor, cloro e hidroxila. Este mineral é comumente encontrado em rochas terrestres, meteoritos e, como as descobertas recentes mostram, também em rochas lunares.
O que torna a apatite particularmente interessante para os cientistas é sua capacidade de incorporar na sua estrutura voláteis, ou seja, elementos ou compostos que podem evaporar ou se decompor a temperaturas relativamente baixas. No contexto lunar, os voláteis mais relevantes são a água (H₂O) e os compostos hidroxilados (OH). Apatite pode, portanto, servir como indicador da presença de água e outros voláteis nas rochas lunares.
Examinando a composição e estrutura da apatite encontrada nos meteoritos lunares, os pesquisadores podem inferir a quantidade e a forma sob a qual a água estava presente na crosta lunar primitiva. Isso oferece pistas valiosas sobre a história geológica da Lua e, por extensão, sobre a evolução dos ambientes planetários em nosso sistema solar.
A descoberta de apatite em meteoritos lunares, e particularmente nos anortositos ferroanos – rochas formadas diretamente a partir do Oceano Magmático Lunar – é significativa. Sugere que a água estava presente até mesmo durante as fases em que a Lua era majoritariamente fundida, revolucionando assim nossa compreensão da história hidrológica da Lua. Esta descoberta poderia ter implicações importantes para o planejamento de futuras missões lunares, em particular para o uso dos recursos hídricos in loco.
Fonte: Nature Astronomy