Um tratamento amplamente utilizado contra a depressão poderia revolucionar a luta contra o câncer cerebral? As descobertas recentes em torno da vortioxetina, um antidepressivo, trazem à tona perspectivas promissoras.
Pesquisadores suíços iluminaram as capacidades inesperadas deste antidepressivo na batalha contra o glioblastoma. Este tumor cerebral, um dos mais temíveis, pode em breve enfrentar uma nova forma de resistência.
O Hospital Universitário de Zurique está por trás desta pesquisa. Seu estudo foi publicado na revista
Nature Medicine e revela que a vortioxetina pode desacelerar significativamente a progressão do glioblastoma. O medicamento foi testado em modelos de camundongos, e os resultados são encorajadores.
O glioblastoma é conhecido por sua resistência aos tratamentos convencionais, como a quimioterapia. Todos os anos, cerca de 3.500 novos casos são diagnosticados na França, sublinhando a urgência de inovações terapêuticas.
Os pesquisadores usaram uma plataforma de farmacoscopia para avaliar a eficácia de várias substâncias em tecidos cancerosos humanos. Mais de 130 compostos foram testados, destacando a eficácia particular da vortioxetina. Este medicamento age desencadeando uma cascata de sinais que inibe a divisão celular.
Resultados preliminares mostraram que, com o tratamento com vortioxetina, 66,7% dos tumores retirados de pacientes apresentaram uma redução significativa. Esta melhoria notável foi medida graças a técnicas avançadas de imagem, que permitiram avaliar o tamanho dos tumores antes e após a administração do medicamento.
Paralelamente, testes em modelos de camundongos também confirmaram a eficácia do medicamento. Nesses estudos, os camundongos com glioblastoma apresentaram uma desaceleração marcada no crescimento dos tumores quando receberam vortioxetina. Este efeito mostrou-se particularmente potente quando combinado com outros tratamentos convencionais, como a quimioterapia.
Para validar esses resultados, ensaios clínicos estão sendo preparados. Um deles envolverá a administração de vortioxetina em complemento aos tratamentos padronizados em humanos. Outro proporá uma seleção personalizada de medicamentos.
É essencial lembrar que, até lá, a automedicação não é uma solução. O Dr. Michael Weller, coautor do estudo, alerta sobre os riscos associados ao uso não supervisionado. O medicamento precisa passar por testes rigorosos antes de ser prescrito.
As pesquisas atuais demonstram que a inovação terapêutica pode, às vezes, vir de tratamentos existentes, reutilizados de maneira estratégica. Se os ensaios clínicos confirmarem a eficácia da vortioxetina, isso representará um avanço significativo na luta contra o glioblastoma, que continua sendo um dos tumores mais difíceis de tratar.
O que é farmacoscopia?
A farmacoscopia é um método utilizado para estudar os efeitos dos medicamentos em células vivas. Essa técnica permite testar simultaneamente centenas de substâncias ativas em amostras biológicas, facilitando a identificação de tratamentos potenciais para várias patologias, incluindo cânceres.
Ao integrar ferramentas de imagem e análise computacional, a farmacoscopia oferece uma abordagem sistemática para determinar a eficácia de medicamentos existentes ou novos.
Como a vortioxetina age contra o glioblastoma?
A vortioxetina, como antidepressivo, atua principalmente modulando a neurotransmissão no cérebro. No contexto do glioblastoma, ela demonstrou capacidade de atravessar a barreira hematoencefálica e influenciar a sinalização celular, retardando assim a divisão das células cancerígenas.
Essa ação neuroprotetora também parece sensibilizar as células tumorais aos tratamentos convencionais, tornando a quimioterapia e a radioterapia mais eficazes. Os resultados de pesquisas recentes destacam seu potencial como uma opção terapêutica inovadora na luta contra essa forma agressiva de câncer.
O que é o glioblastoma?
O glioblastoma é uma forma agressiva de câncer cerebral, representando o tumor cerebral maligno mais comum e temido. Ele se desenvolve a partir de células gliais, que sustentam e protegem os neurônios.
Este câncer é caracterizado por crescimento rápido e uma forte resistência aos tratamentos convencionais, como a quimioterapia e a radioterapia. A sobrevida média após o diagnóstico geralmente não excede doze meses, sublinhando a urgência de encontrar tratamentos mais eficazes.
Autor do artigo: Cédric DEPOND
Fonte: Nature medicine