Os microplásticos estão em toda parte. Mas uma espécie parece escapar deles. Uma pequena criatura marinha resiste à invisível ameaça plástica.
Os tardígrados, esses animais quase imortais, parecem não ingerir microplásticos. Contudo, a quase totalidade das espécies marinhas é afetada por essas partículas.
Pesquisadores brasileiros mergulharam mais de 5.600 organismos marinhos em um banho de microplásticos. Observaram que apenas essa criatura resiliente escapa da ingestão desses poluentes. Todos os outros, desde nematódeos até vermes poliquetas, passando por crustáceos e ácaros, ingeriram microplásticos. Essas diminutas partículas, detectadas com o uso de pigmentos fluorescentes, muitas vezes acabam se depositando nos sedimentos marinhos.
Os microplásticos, definidos como fragmentos de plástico que medem geralmente menos de 5 milímetros, provêm principalmente da degradação de objetos plásticos produzidos em massa pela indústria humana. Esse processo de fragmentação ocorre em função de fatores ambientais como o sol, o vento e a erosão marinha.
Uma vez liberadas nos oceanos, essas diminutas partículas se acumulam nos organismos marinhos, muitas vezes ingeridas de forma inadvertida. Ao se alojarem nos tecidos de diversas espécies, os microplásticos sobem gradualmente na cadeia alimentar, chegando a animais maiores e, eventualmente, até aos humanos.
Nos tardígrados, a ausência de ingestão de microplásticos parece estar diretamente ligada à estrutura única de seu aparelho bucal. Esse aparelho é composto por um estilete, um tubo especializado que eles utilizam para perfurar e aspirar os fluidos de suas presas. Ao contrário de outros organismos que ingerem suas presas inteiras, os tardígrados consomem apenas os líquidos extraídos, o que reduz significativamente o risco de ingestão acidental de partículas sólidas, como os microplásticos.
Embora essas criaturas escapem da ingestão, elas não estão completamente livres do plástico. Os microplásticos frequentemente se aderem aos seus apêndices locomotores (em outras palavras, suas patas), afetando assim sua mobilidade.
Este estudo abre novas perspectivas sobre os impactos ecológicos dos microplásticos. Também destaca a importância de estudar a resiliência única de certas espécies, como os tardígrados, em um oceano repleto de plástico.
Autor do artigo: Cédric DEPOND
Fonte: PeerJ Life and Environment