Longe de se limitar à escola, a aprendizagem da matemática também começa em casa. Num estudo publicado na
Child Development, cientistas revelam que atividades lúdicas simples realizadas em família podem reforçar as competências matemáticas das crianças. Este estudo estabelece pela primeira vez uma ligação causal entre as práticas familiares e o desenvolvimento matemático sem recorrer a dispositivos rígidos e complexos.
Quando a matemática chega a casa: uma abordagem lúdica e eficaz.
Sabe-se há muito tempo que o ambiente familiar desempenha um papel fundamental nas aprendizagens precoces. Se a transmissão da linguagem ou da leitura está bem documentada, a das competências matemáticas continua largamente subestimada. Um estudo publicado na revista
Child Development demonstra pela primeira vez, num contexto europeu, que atividades matemáticas simples, integradas no quotidiano entre pais e filhos, podem ter um efeito causal no desenvolvimento das competências matemáticas em crianças em idade pré-escolar.
Imagem de ilustração Pixabay
As desigualdades sociais e económicas influenciam fortemente o sucesso escolar, nomeadamente em matemática. Entre os fatores em jogo, as diferenças nas práticas parentais relacionadas com os números suscitam um interesse crescente. Algumas famílias falam mais de quantidades, usam com mais frequência os números no quotidiano ou nas brincadeiras partilhadas. Estudos anteriores, realizados principalmente nos Estados Unidos, sugeriram que estas práticas favorecem a aprendizagem da matemática. Contudo, estes estudos baseiam-se frequentemente em intervenções pouco realistas: exigem repetições frequentes e um acompanhamento dos pais por parte dos cientistas.
Para superar estas limitações, os cientistas conceberam uma intervenção domiciliária baseada em atividades lúdicas, simples e ecologicamente válidas, ou seja, compatíveis com a vida quotidiana das famílias. Durante seis semanas, os pais receberam jogos (cartas, tabuleiros) e álbuns que incentivam as trocas em torno dos números. Nenhuma instrução rígida nem formação prévia lhes foi imposta: eram livres de escolher os suportes e os momentos de atividade, ao seu próprio ritmo.
Um protocolo rigoroso para um avanço concreto na redução das desigualdades escolares.
O estudo, realizado com 117 crianças no jardim de infância, adota um protocolo rigoroso: repartição aleatória em dois grupos (matemática vs. linguagem), avaliação antes e depois da intervenção, e pré-registo das análises. O grupo "linguagem", que serviu de grupo de controlo ativo, propôs atividades igualmente estimulantes a nível cognitivo, mas sem conteúdo matemático.
Os resultados são claros: as crianças que participaram nas atividades matemáticas progridem de forma significativa, nomeadamente em transcodificação (capacidade de passar de uma quantidade para um símbolo ou vice-versa) e em ordinalidade (compreender a ordem dos números) - duas competências-chave para as futuras aprendizagens.
Efeitos da intervenção em duas competências numéricas: a ordinalidade (esquerda) e a transcodificação (direita), medidas antes (pré-teste) e depois (pós-teste) das atividades familiares. A intervenção direcionada para as atividades matemáticas (roxo) provoca uma progressão mais acentuada do que a centrada na linguagem (laranja), indicando um efeito específico da intervenção sobre as competências numéricas.
© Cléa Girard
Ao basear-se em interações comuns, acessíveis a todas as famílias, esta investigação marca um duplo avanço: mostra que as práticas familiares têm um efeito direto nas aprendizagens matemáticas, e que é possível intervir eficazmente sem recorrer a dispositivos pesados ou dispendiosos. Este trabalho abre pistas concretas para combater as desigualdades escolares e promover a matemática como uma atividade familiar por direito próprio.
Fonte: CNRS INSB