Cédric - Sábado 13 Setembro 2025

🏔️ Estamos lá, os últimos glaciares estáveis do planeta começam a colapsar

Os glaciares da Ásia Central resistiram durante muito tempo ao degelo observado noutras partes do mundo. Estes gigantes de gelo, apelidados de "terceiro polo", parecem agora fragilizados por uma mudança recente no seu ambiente.

Desde 2018, observações mostram uma aceleração do degelo nas montanhas do Pamir, no Tajiquistão. Os primeiros elementos levam a crer que este degelo estaria diretamente ligado a uma forte diminuição das precipitações de neve. Esta evolução preocupa os cientistas, pois ameaça não só o abastecimento de água de milhões de pessoas, mas também poderia modificar os equilíbrios climáticos regionais e até mundiais.



O fim de uma "anomalia"


Durante décadas, alguns glaciares do Pamir e do Karakoram resistiram ao aquecimento global. Este fenómeno, chamado "anomalia do Pamir-Karakoram", foi durante muito tempo um mistério para os investigadores. A estabilidade excecional destes glaciares explica-se pelo seu ambiente semiárido e pelo seu importante manto de neve, que os protegia parcialmente do degelo.


A instalação de uma estação de monitorização no glaciar Kyzylsu, a 3.400 metros de altitude, permitiu recolher novos dados precisos. Os registos abrangem o período de 1999-2023 e foram combinados com modelos climáticos para melhor compreender as evoluções. Eles mostram que o glaciar atingiu um limiar crítico por volta de 2018, com uma diminuição acentuada do manto de neve.

A consequência imediata é um degelo acelerado do glaciar. Esta modificação afeta a saúde do gelo e a regulação dos cursos de água, salientando que a "anomalia" observada durante décadas poderá estar a chegar ao fim. No entanto, a origem exata da redução das precipitações permanece incerta e poderá não estar unicamente relacionada com o aquecimento global.


Imagem Wikimedia


Observações e implicações locais


Os cientistas tiveram de superar o isolamento e a instabilidade política da região para instalar os seus instrumentos. Desde 2021, eles recolhem dados detalhados sobre a neve e o caudal dos cursos de água, o que permitiu modelar o comportamento do glaciar de forma fiável.

As comunidades locais, como os pastores do Pamir, participam ativamente nas observações. Elas relatam mudanças observadas no terreno, confirmando a aceleração do degelo e oferecendo um retorno valioso para os investigadores. Esta colaboração reforça as medições e permite manter a monitorização apesar das dificuldades logísticas.

O Kyzylsu alimenta a bacia do Amu Darya, um rio essencial para a agricultura e o ecossistema local. Embora o degelo aumentado forneça temporariamente mais água, o futuro permanece preocupante, pois a diminuição do manto de neve reduz progressivamente as reservas glaciares disponíveis para as populações a jusante.

Autor do artigo: Cédric DEPOND
Fonte: Nature communications Earth & Environment
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