Uma descoberta arqueológica na Mongólia revela os restos de guerreiros Han, vítimas de uma execução brutal há mais de dois milênios. Esta descoberta lança uma nova luz sobre as práticas funerárias e os conflitos entre o Império Han e os nômades Xiongnu.
Pesquisadores analisaram uma vala comum contendo esqueletos Han, datados do século II a.C. Esses homens, provavelmente soldados, foram vítimas de mutilações e decapitações, sinais de uma execução infame de acordo com as crenças da época. Análises genéticas e isotópicas confirmaram sua origem geográfica e pertencimento étnico.
Vários esqueletos de soldados Han encontrados em uma vala comum na Mongólia.
Crédito: Ma et al. / Journal of Archaeological Science / CC BY-NC 4.0
As guerras entre o Império Han e os Xiongnu marcaram um período turbulento da história chinesa. Esses conflitos, que se estenderam por dois séculos, viram a construção de fortificações, algumas das quais foram integradas à Grande Muralha da China. A descoberta desta vala comum oferece uma visão única das práticas funerárias e rituais da época.
As análises de DNA mostraram que os indivíduos enterrados eram geneticamente próximos das populações Han e do norte da China atuais. Os isótopos de estrôncio revelaram que esses homens eram originários de diferentes regiões, sugerindo que eram soldados recrutados para uma batalha contra os Xiongnu.
Vista aérea do sítio arqueológico de Bayanbulag na Mongólia.
Crédito: Ma et al. / Journal of Archaeological Science / CC BY-NC 4.0
Os pesquisadores observaram que os corpos foram enterrados com cuidado, apesar das mutilações. Essa prática reflete as crenças chinesas da época, segundo as quais era essencial preservar a integridade do corpo para garantir o bem-estar no além. No entanto, alguns corpos não puderam ser enterrados intactos, como evidenciado pela ausência de cabeça em um dos falecidos.
Este estudo, publicado no
Journal of Archaeological Science, combina contexto histórico, análises genéticas e isotópicas para reconstruir os eventos que levaram à morte desses soldados. Ele abre novas perspectivas para a compreensão das guerras Han-Xiongnu e das práticas funerárias da época.
Os pesquisadores esperam que trabalhos adicionais permitam compreender melhor os costumes funerários das populações desse período. Esta descoberta representa um avanço significativo no estudo de conflitos antigos e dos rituais associados à morte.
O que a análise isotópica revela sobre as origens dos indivíduos?
A análise isotópica, em particular a do estrôncio, permite determinar a origem geográfica dos indivíduos ao estudar as variações desse elemento em seus ossos. Este método baseia-se no princípio de que as proporções isotópicas do estrôncio no ambiente são absorvidas pelas plantas e, posteriormente, pelos animais e humanos que as consomem.
Os resultados dessa análise mostram que os soldados enterrados na vala comum de Bayanbulag vinham de diferentes regiões, indicando que provavelmente eram soldados recrutados para combater os Xiongnu. Essa diversidade geográfica destaca a amplitude das mobilizações militares do Império Han.
Esta técnica é particularmente útil na arqueologia para rastrear os movimentos de populações antigas e compreender as dinâmicas migratórias e militares das civilizações passadas.
Como as crenças chinesas influenciavam as práticas funerárias?
As crenças chinesas antigas atribuíam grande importância à integridade do corpo após a morte. Segundo essas crenças, um corpo mutilado ou incompleto impedia a alma de renascer ou encontrar paz no além. Isso explica por que os soldados Han, embora mutilados, foram enterrados com cuidado, com uma tentativa de reconstituir seus corpos.
Essa prática também reflete o respeito dos vivos pelos mortos, buscando oferecer-lhes uma sepultura digna, apesar das circunstâncias de sua morte. Os rituais funerários eram, portanto, um meio de preservar a honra dos falecidos e respeitar as tradições espirituais.
No entanto, no caso dos soldados executados pelos Xiongnu, alguns corpos não puderam ser enterrados intactos, o que destaca a brutalidade dos conflitos e as práticas de guerra da época.
Fonte: Journal of Archaeological Science