Uma equipe internacional capturou uma imagem inédita de um filamento cósmico conectando duas galáxias. Esta descoberta ilumina a estrutura da teia cósmica e seu papel na formação das galáxias.
Graças a centenas de horas de observações, os pesquisadores obtiveram uma imagem de alta definição de um filamento cósmico. Este último, datando da época em que o Universo tinha cerca de 2 bilhões de anos, conecta duas galáxias em formação ativa. Esta observação foi possível graças ao instrumento MUSE, instalado no Very Large Telescope no Chile.
O gás difuso (amarelo a violeta) contido no filamento cósmico conectando duas galáxias, estendendo-se por uma vasta distância de 3 milhões de anos-luz.
Crédito: Davide Tornotti/Universidade de Milão-Bicocca
A teia cósmica, constituída por filamentos de matéria escura, serve como estrutura para o Universo. As galáxias se formam nas interseções desses filamentos, onde o gás intergaláctico alimenta o nascimento das estrelas. Este estudo, publicado na
Nature Astronomy, marca um avanço importante na compreensão da formação das galáxias.
A equipe utilizou simulações computacionais para comparar suas observações com as previsões teóricas. Os resultados mostram uma concordância notável entre os modelos cosmológicos atuais e os dados observados. Esta validação reforça nossa compreensão da distribuição do gás no Universo.
Davide Tornotti, doutorando na Universidade de Milão-Bicocca, explica que esta observação permite caracterizar com precisão a forma do filamento. Pela primeira vez, os pesquisadores puderam medir diretamente a fronteira entre o gás das galáxias e o da teia cósmica.
Esta descoberta abre novas perspectivas para estudar o ambiente gasoso ao redor das galáxias. Fabrizio Arrigoni Battaia, cientista do Instituto Max Planck de astrofísica, destaca a importância de continuar essas observações para obter uma visão completa da distribuição do gás na teia cósmica.
Os pesquisadores planejam coletar mais dados para descobrir outras estruturas semelhantes. Esses trabalhos poderiam revolucionar nossa compreensão da formação e evolução das galáxias, revelando como o gás circula no Universo.
O que é a teia cósmica?
A teia cósmica é uma estrutura em grande escala do Universo, composta por filamentos de matéria escura e gás. Esses filamentos conectam as galáxias entre si, formando uma rede complexa. As interseções desses filamentos abrigam os aglomerados de galáxias, onde a densidade da matéria é mais alta.
A matéria escura, invisível mas detectável por seus efeitos gravitacionais, constitui cerca de 85% da matéria total do Universo. Ela desempenha um papel crucial na formação da teia cósmica, atraindo o gás intergaláctico que alimenta a formação das estrelas.
As observações recentes, como a deste estudo, permitem compreender melhor a distribuição do gás nesses filamentos. Esses dados são essenciais para validar os modelos cosmológicos e entender como as galáxias se formam e evoluem.
Ao estudar a teia cósmica, os cientistas esperam desvendar os mistérios do Universo primordial e compreender melhor os processos que levaram à formação das estruturas que observamos hoje.
Como se observam os filamentos cósmicos?
Observar os filamentos cósmicos é um grande desafio técnico. O gás intergaláctico é muito difuso e emite uma luz extremamente fraca. Os instrumentos tradicionais não conseguem detectar diretamente essa luz, o que torna a observação dos filamentos difícil.
Para contornar esse problema, os astrônomos utilizam técnicas indiretas, como a absorção da luz dos quasares pelo gás intergaláctico. No entanto, esses métodos não fornecem imagens diretas dos filamentos.
O instrumento MUSE, instalado no Very Large Telescope, permitiu capturar uma imagem de alta definição de um filamento cósmico. Graças às suas capacidades espectroscópicas avançadas, o MUSE conseguiu detectar a fraca luz emitida pelo gás intergaláctico.
Esta observação exigiu centenas de horas de tempo de observação, tornando-a uma das campanhas mais ambiciosas já realizadas com este instrumento. Os resultados abrem novas perspectivas para o estudo direto dos filamentos cósmicos.
Fonte: Nature Astronomy