E se uma inteligência artificial pudesse antecipar nossas decisões melhor do que nós mesmos? Uma equipe de pesquisadores desenvolveu o Centaur, um modelo capaz de simular nossos processos mentais com uma precisão inédita.
Este sistema, treinado com mais de 10 milhões de decisões humanas, abre perspectivas importantes em psicologia e neurociências. Diferentemente das abordagens tradicionais, ele não se limita a analisar comportamentos isolados, mas generaliza suas previsões para situações novas.
Centaur: um passo em direção à modelagem universal da cognição
O modelo se baseia em um banco de dados chamado
Psych-101. Esses testes abrangem áreas variadas, como a tomada de riscos ou o raciocínio moral. O Centaur se destaca onde as teorias clássicas falham: ele prevê não apenas as escolhas, mas também os tempos de reação.
Os pesquisadores adaptaram um modelo de linguagem existente (Llama 3.1), modificando apenas 0,15% de seus parâmetros. Essa eficiência permite que o Centaur funcione como um "laboratório virtual". Segundo seus criadores, ele poderia ajudar a estudar transtornos mentais simulando os mecanismos de decisão específicos de cada patologia.
Uma de suas forças está na capacidade de se adaptar a cenários inéditos. Por exemplo, ele transpõe estratégias aprendidas em um jogo de tesouro espacial para uma missão em um tapete voador. Uma flexibilidade que supera modelos especializados desenvolvidos há décadas.
Aplicações e limites de uma IA psicóloga
O Centaur poderia transformar a pesquisa clínica ou a economia comportamental. Ao reproduzir padrões de pensamento, ele permitiria testar terapias ou políticas públicas in silico. No entanto, seus dados vêm principalmente de populações ocidentais educadas, o que limita seu alcance.
A equipe insiste na necessidade de transparência. O modelo é open-source, para evitar vieses e garantir um uso ético. Próxima etapa: entender como seus cálculos internos refletem a atividade cerebral e aprimorar sua análise das diferenças individuais.
Para os cientistas, o Centaur é apenas um começo. Enriquecido com dados mais diversificados, ele poderia se tornar uma "teoria unificada" da cognição. Mas seu desenvolvimento precisará conciliar inovação e vigilância ética.
Autor do artigo: Cédric DEPOND
Fonte: Nature