Um novo instrumento promissor acaba de ser lançado no âmbito médico, focando nas infecções de ouvido em crianças pequenas. Trata-se de uma aplicação para telemóveis que utiliza inteligência artificial para diagnosticar de forma precisa as otites, ou otites médias agudas (OMA). Este avanço tecnológico poderá não apenas melhorar o diagnóstico desta comum infecção infantil mas também contribuir para reduzir a prescrição desnecessária de antibióticos, um problema significativo no atual contexto de resistência crescente aos antimicrobianos.
De fato, a otite média aguda é frequente em crianças pequenas, afetando cerca de 70% delas antes do seu primeiro aniversário. No entanto, seu diagnóstico preciso é muitas vezes complicado, devido a semelhanças com outras condições do ouvido, como a otite média com efusão, que não necessita de tratamento antibiótico. Esta confusão pode levar a uma prescrição desnecessária de antibióticos, comprometendo assim a eficácia destes medicamentos.
Face a esta dificuldade de diferenciar as duas formas de otites, médicos-pesquisadores da Universidade de Pittsburgh e da UPMC desenvolveram uma aplicação para smartphones que emprega inteligência artificial. Esta aplicação avalia um curto vídeo do tímpano capturado por um otoscópio ligado à câmera do telefone, oferecendo assim um meio simples e eficaz de diagnosticar a OMA. Este método poderia se mostrar mais preciso do que o diagnóstico tradicional realizado por clínicos qualificados.
O Dr. Alejandro Hoberman, principal autor do estudo, destaca a importância desta ferramenta na luta contra a prescrição desnecessária de antibióticos. De fato, uma identificação errada da OMA pode levar a cuidados inadequados ou um tratamento antibiótico supérfluo. Graças a esta aplicação, é possível obter um diagnóstico preciso e direcionar o tratamento de forma apropriada.
Para desenvolver esta ferramenta, os pesquisadores criaram uma biblioteca de mais de 1.000 vídeos da membrana do tímpano de crianças que visitaram consultórios pediátricos. Estes vídeos foram utilizados para treinar dois modelos de inteligência artificial a reconhecer as características distintivas da OMA. Os resultados foram animadores, com o desempenho dos modelos superando amplamente o dos clínicos tradicionais.
Além da sua utilidade no diagnóstico, esta aplicação oferece também a possibilidade de armazenar os vídeos no arquivo médico do paciente, facilitando assim o compartilhamento de informações entre os profissionais de saúde e os pais. Ademais, ela é uma ferramenta pedagógica valiosa para estudantes de medicina e residentes, ajudando-os a entender e a interpretar os diagnósticos.
Autor do artigo: Cédric DEPOND
Fonte: JAMA Pediatrics