Há 252 milhões de anos, uma extinção em massa abalou a vida na Terra. No entanto, uma região da China ofereceu um refúgio para plantas e animais, revelando uma resiliência inesperada.
Esta descoberta, publicada na
Science Advances, desafia a ideia de que os ecossistemas terrestres sofreram uma devastação total semelhante à dos oceanos. A bacia de Turpan-Hami, em Xinjiang, abrigou uma vegetação exuberante e animais, permitindo uma rápida recuperação ecológica após a crise.
A) Paisagem de planície lacustre densamente povoada por uma floresta de coníferas ou samambaias com sementes durante a extinção em massa do Permiano, conforme indicado pelos conjuntos LA.
B) Planície lacustre dominada por licópsidas herbáceas, habitada pelo dicinodontoide Turfanodon antes da extinção, de acordo com os conjuntos CR.
C) Vegetação regional caracterizada por uma abundância de samambaias com menos gimnospermas e samambaias com sementes, localizada em um delta lacustre, conforme os conjuntos Ks. Esta área era habitada pelo croniosuquiano carnívoro e pelo herbívoro Lystrosaurus após a extinção.
Um ecossistema preservado apesar do caos
A extinção do final do Permiano, causada por erupções vulcânicas massivas na Sibéria, provocou um aquecimento climático abrupto, chuvas ácidas e uma queda drástica no oxigênio. Essas perturbações devastaram a maioria dos ecossistemas terrestres e marinhos, mas algumas regiões, como a bacia de Turpan-Hami, escaparam do pior. Graças a um clima local estável e semiúmido, esta área tornou-se um refúgio para a vida.
Os pesquisadores analisaram fósseis de pólen, esporos e troncos de árvores, revelando uma vegetação dominada na época por samambaias e coníferas. Essas plantas prosperaram de forma contínua antes, durante e após a extinção, formando um ecossistema resiliente. A taxa de extinção das espécies vegetais nesta região foi de apenas 21%, muito inferior às perdas massivas observadas nos oceanos, onde mais de 80% das espécies desapareceram.
A presença de troncos de árvores intactos e caules de samambaias confirma que esses fósseis eram realmente da região e não foram transportados pelo vento ou pela água. Essa estabilidade ecológica permitiu que a vida persistisse apesar das condições hostis que prevaleciam em outras partes do planeta. A bacia de Turpan-Hami tornou-se, assim, um exemplo raro de resiliência diante de uma crise global.
Uma recuperação ecológica rápida
Apenas 75.000 anos após a extinção, a região da bacia de Turpan-Hami já abrigava uma fauna diversificada, incluindo herbívoros como o Lystrosaurus e carnívoros como os Chroniosuchia. Essa rápida recuperação contrasta com estimativas anteriores, que sugeriam uma recuperação ecológica em mais de um milhão de anos. A presença de uma rede trófica importante mostra que o ecossistema recuperou seu equilíbrio muito mais rapidamente do que em outras regiões do globo.
A estabilidade climática e a riqueza vegetal da bacia de Turpan-Hami desempenharam um papel crucial nessa resiliência. Com cerca de 1.000 mm de precipitação anual, a região oferecia um ambiente favorável ao crescimento das plantas e à sobrevivência dos animais. Essa abundância de recursos permitiu que espécies migratórias se estabelecessem e prosperassem, acelerando a reconstituição da biodiversidade local.
Esta descoberta destaca a importância dos refúgios naturais para a sobrevivência e a recuperação dos ecossistemas após crises globais. Ela mostra que, mesmo em períodos de perturbações extremas, algumas áreas podem servir como santuários, facilitando o retorno da vida e a reconstituição dos ecossistemas. Esses refúgios podem oferecer lições valiosas para a conservação diante dos desafios ambientais atuais.
Autor do artigo: Cédric DEPOND
Fonte: Science Advances