Cédric - Sábado 29 Março 2025

Descoberta: os tubarões emitem sons! 🦈

Ao contrário do que se pensava, alguns tubarões podem não ser totalmente silenciosos. Um estudo revela um comportamento inédito em uma espécie neozelandesa, questionando nosso conhecimento sobre esses predadores marinhos.

Até agora, os elasmobrânquios (tubarões e raias) eram considerados incapazes de produzir sons voluntários. Essa crença acaba de ser abalada por observações surpreendentes realizadas em laboratório.


Mustelus lenticulatus foi registrado emitindo cliques deliberados.
Imagem: Paul Caiger


Uma descoberta acidental


A equipe do laboratório marinho de Leigh observou que tubarões juvenis da espécie "Rig Shark" emitiam estalos durante manipulações. Esses sons curtos (48 milissegundos) atingiam até 166 decibéis, equivalentes a um estalo de fogos de artifício.

As gravações mostram que 100% dos indivíduos testados produziram esses cliques, principalmente nos primeiros segundos de manipulação. A frequência diminuía depois, sugerindo uma reação de estresse em vez de comunicação intencional.

Segundo o estudo publicado na Royal Society Open Science, esses sons podem vir do estalo dos dentes planos, característicos dessa espécie. Diferentemente dos tubarões clássicos, essa espécie possui molares adaptados para triturar crustáceos.

Uma função ainda misteriosa


Os pesquisadores descartam a hipótese de um pedido de ajuda, pois a frequência dos cliques ultrapassa a capacidade auditiva dos tubarões. Por outro lado, eles podem servir para surpreender temporariamente um predador, como fazem algumas raias.

A ausência de estruturas sonoras especializadas nos elasmobrânquios torna essa descoberta particularmente intrigante. Os cientistas destacam que o mecanismo exato ainda precisa ser confirmado por estudos complementares.


a) Vista dorsal do crânio de um jovem macho de Mustelus lenticulatus mostrando estruturas cartilaginosas e dentárias.
b) Vista rostral indicando a posição do condrocrânio, das mandíbulas e do sistema dentário.
c) Vista ventral mostrando as cartilagens das mandíbulas superior e inferior.
d) Vista lateral incluindo o condrocrânio e elementos associados.
e–f) Fotos da mandíbula superior mostrando dentes planos com coroas arredondadas e dois pequenos cúspides laterais (f, pontas pretas). Uma protuberância é visível na face lingual (f, seta preta), com cristas curtas na base da coroa (f, h, seta branca).
g–h) Fotos da mandíbula inferior apresentando a mesma morfologia dentária.

Essa observação abre novas perspectivas sobre comportamentos pouco conhecidos dos tubarões. Os autores esperam que outras espécies sejam estudadas de forma semelhante em seu habitat natural.

Para saber mais: como os peixes produzem sons?



A produção sonora em peixes envolve diversos mecanismos anatômicos. Cerca de 1.000 espécies são capazes de emitir sons, principalmente para reprodução, defesa territorial ou alerta contra predadores.

A bexiga natatória, órgão de flutuabilidade, atua como caixa de ressonância em muitas espécies. Ao contraí-la com músculos especializados, os peixes geram vibrações audíveis, como no caso da corvina ou do peixe-tambor. Alguns também esfregam ossos faríngeos ou nadadeiras para criar estridulações.

Os elasmobrânquios (tubarões, raias) eram considerados silenciosos por falta de órgãos dedicados. As recentes descobertas sobre os estalos dentários do tubarão rig mostram que outros mecanismos existem. As raias, por exemplo, produziriam cliques ao projetar violentamente a cabeça para cima.

O estudo desses sons ainda é difícil no ambiente natural. Hidrofones e câmeras subaquáticas estão ajudando a decifrar esses comportamentos, revelando uma comunicação acústica insuspeitada em espécies marinhas.

Autor do artigo: Cédric DEPOND
Fonte: Royal Society Open Science
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