Os lagos de soda podem guardar a chave para o surgimento da vida na Terra. Esses ambientes peculiares teriam concentrado o fósforo necessário para as primeiras reações químicas pré-bióticas.
O fósforo é um elemento essencial para a vida, presente no DNA, RNA e ATP. Sua escassez na superfície terrestre representa um enigma: como as primeiras formas de vida conseguiram acessá-lo em quantidade suficiente? Experimentos mostram que as reações pré-bióticas exigem concentrações de fósforo muito superiores às disponíveis naturalmente.
Formações no Lago Mono
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Craig Walton, pesquisador da ETH Zurich, propõe uma solução. Grandes lagos de soda, como o Lago Mono na Califórnia, perdem água apenas por evaporação. Esse mecanismo permite que o fósforo se acumule, criando um ambiente propício para o surgimento da vida. Esses lagos oferecem uma estabilidade química impossível em pequenas bacias.
Pequenos lagos não conseguem manter níveis suficientes de fósforo a longo prazo. A vida rapidamente esgotaria esse recurso essencial. Já os grandes lagos se beneficiam de um aporte contínuo de fósforo pelos rios, compensando as perdas devido à atividade biológica.
O Lago Mono ilustra perfeitamente esse fenômeno. Com uma área duas vezes maior que a do Lago de Zurique, ele mantém uma alta concentração de fósforo, sustentando uma rica biodiversidade. Essa estabilidade química o torna um modelo para entender as condições pré-bióticas na Terra primitiva.
Essa teoria se afasta da ideia de Charles Darwin, que imaginava a vida surgindo em pequenas poças quentes. Walton e sua equipe destacam a importância dos grandes lagos de soda, capazes de sustentar tanto as reações químicas quanto as primeiras formas de vida.
Linhas de tufas no Lago Mono. Setembro de 2016.
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O trabalho de Walton, publicado na
Science Advances, abre novas perspectivas sobre a origem da vida. Ele sugere que os grandes lagos de soda, com seu equilíbrio geoquímico único, podem ter desempenhado um papel crucial nesse processo ainda misterioso.
Por que o fósforo é essencial para a vida?
O fósforo é um componente central do DNA e do RNA, as moléculas que armazenam e transmitem informações genéticas. Sem fósforo, esses processos fundamentais não poderiam ocorrer.
Ele também é crucial para a produção de ATP, a molécula que fornece energia às células. Essa energia permite que os organismos cresçam, se reproduzam e respondam ao ambiente.
Por fim, o fósforo desempenha um papel na estrutura das membranas celulares. Ele contribui para a formação dos fosfolipídios, que constituem a barreira protetora das células.
Apesar de sua importância, o fósforo é relativamente escasso na superfície terrestre, tornando-se um fator limitante para o surgimento e a manutenção da vida.
Como os lagos de soda concentram fósforo?
Os lagos de soda são ambientes únicos onde a água só é perdida por evaporação. Esse processo deixa para trás os minerais dissolvidos, incluindo o fósforo.
Diferentemente dos lagos tradicionais, que perdem água por rios de saída, os lagos de soda retêm nutrientes. Isso permite uma acumulação gradual de fósforo na água.
A ausência de escoamento também significa que o fósforo não é diluído ou carregado. Essa alta concentração é essencial para as reações químicas complexas que podem ter levado ao surgimento da vida.
Essas condições particulares fazem dos lagos de soda candidatos ideais para estudar as origens da vida na Terra e, talvez, em outros planetas.
Fonte: Science Advances