Adrien - Terça-feira 23 Setembro 2025

🍄 Contraintuitivo? Curar este fungo dos seus vírus torna-o muito menos perigoso

No universo dos micróbios, alguns segredos escondem-se no interior de outros organismos. Uma descoberta recente destaca um vírus alojado no coração de um fungo temido, abrindo perspetivas inesperadas para a medicina.

A Organização Mundial da Saúde classificou o fungo Aspergillus fumigatus como uma preocupação maior devido à sua capacidade de provocar infeções graves. Este microrganismo, presente no ambiente, liberta esporos que as pessoas inalam diariamente sem consequências para a maioria. No entanto, em indivíduos imunocomprometidos ou com doenças pulmonares, pode desencadear afecções potencialmente fatais, com milhões de casos registados anualmente em todo o mundo.


Aspergillus fumigatus infetado por um vírus (à direita) apresenta uma melhor sobrevivência comparado com as estirpes não infetadas (à esquerda). Crédito: Marina Campos Rocha


Investigadores identificaram um vírus específico, denominado AfuPmV-1M, que infeta este fungo. Ao contrário do que se poderia pensar, este vírus não prejudica o seu hospedeiro; pelo contrário, confere-lhe vantagens significativas para sobreviver em condições hostis, incluindo... o corpo humano. Melhora nomeadamente a produção de melanina, um pigmento que reforça a resistência do fungo, e otimiza a sua resposta ao stress ambiental.

Num estudo publicado na Nature Microbiology, experiências em ratos mostraram que a administração de medicamentos antivirais direcionados a este vírus reduziu a carga do fungo hospedeiro nos pulmões e aumentou a taxa de sobrevivência dos animais. Esta abordagem, que visa indiretamente o fungo através do seu vírus, representa uma estratégia inovadora para combater as infeções fúngicas, sem agravar a situação como alguns estudos anteriores tinham receado.

As implicações são vastas: se estes antivirais se revelarem eficazes em humanos, poderão ser utilizados para enfraquecer o fungo, permitindo que o sistema imunitário ou os antifúngicos clássicos o eliminem. Além disso, outros patógenos fúngicos poderão albergar vírus semelhantes, o que abre caminho a novas investigações para compreender estas interações a nível molecular.

Os vírus fúngicos e os seus hospedeiros


Os vírus que infetam os fungos, chamados micovírus, são entidades biológicas fascinantes que evoluem em estreita associação com os seus hospedeiros. Ao contrário dos vírus que atacam animais ou plantas, são frequentemente específicos de uma espécie fúngica particular, como o Aspergillus fumigatus para o vírus AfuPmV-1M.

Estes vírus podem modificar o metabolismo do fungo influenciando a síntese de proteínas e a regulação do ARN, uma molécula essencial para a produção dos componentes celares. Isto traduz-se numa melhor adaptação a stresses, como variações de temperatura ou a presença de substâncias tóxicas.


Em alguns casos, esta relação pode ser benéfica para o fungo, conferindo-lhe uma virulência aumentada ou uma resistência aos antifúngicos. Compreender estes mecanismos permite desenvolver terapias inovadoras que visam não o próprio patógeno, mas os elementos que o tornam mais perigoso.

As investigações em curso visam explorar se outros fungos patogénicos para o humano, como a Candida ou o Cryptococcus, albergam vírus semelhantes, o que poderá revolucionar a luta contra as infeções fúngicas.

Fonte: Nature Microbiology
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