O nosso ambiente quotidiano pode esconder atores invisíveis que influenciam as nossas emoções mais íntimas, como o amor.
Investigadores estão a estudar o papel dos micro-organismos presentes no solo e no ar, sugerindo que eles interagem com a nossa microbiota intestinal e modulam os nossos estados emocionais através de vias biológicas. Esta exploração abre perspetivas surpreendentes sobre como o nosso ecossistema microbiano molda as nossas relações humanas.
Os cientistas da universidade Flinders, incluindo o Dr. Jake Robinson, publicaram uma síntese na
mSystems detalhando como os micróbios ambientais poderiam afetar o eixo intestino-cérebro. Eles levantam a hipótese de que estes micro-organismos influenciam a produção de hormonas e neurotransmissores chave, como a dopamina e a ocitocina, que estão envolvidos nos sentimentos amorosos. Esta abordagem combina a microbiologia e a endocrinologia para traçar vias biológicas plausíveis, sem afirmar uma causalidade direta, mas incentivando estudos mais aprofundados.
Para além do amor, estas interações microbio-endócrinas poderiam esclarecer outras emoções, como o ódio ou a agressividade, baseando-se em fundamentos evolutivos. Os investigadores salientam que a confirmação destes mecanismos poderia levar a estratégias inovadoras para a saúde mental e o bem-estar relacional, ajustando a nossa exposição a micróbios benéficos.
Os solos saudáveis emitem sinais químicos e microbianos, suportam a vegetação que melhora a qualidade do ar, e criam ambientes imersivos que afetam os sistemas nervoso, endócrino e imunológico. Inversamente, a degradação dos solos pode aumentar as partículas nocivas no ar e reduzir a diversidade do aerobioma, com efeitos potenciais na inflamação e na saúde mental.
O eixo intestino-cérebro
O eixo intestino-cérebro é um sistema de comunicação bidirecional entre o sistema digestivo e o cérebro, envolvendo sinais nervosos, hormonais e imunológicos. Permite que a microbiota intestinal influencie as funções cerebrais, incluindo o humor e as emoções.
Os micróbios intestinais produzem metabolitos, como os ácidos gordos de cadeia curta, que podem atravessar a barreira hematoencefálica e afetar a produção de neurotransmissores. Por exemplo, algumas bactérias estimulam a síntese de serotonina, um neurotransmissor chave para a regulação do humor.
Desequilíbrios na microbiota, chamados disbiose, foram associados a transtornos mentais como a depressão ou a ansiedade. Isto mostra a importância de uma alimentação rica em fibras e probióticos para manter um equilíbrio microbiano saudável.
A investigação sobre este eixo abre caminhos para terapias que visam a microbiota, como probióticos ou dietas específicas, a fim de melhorar a saúde mental sem recorrer apenas a medicamentos tradicionais.
Fonte: mSystems