Adrien - Domingo 14 Setembro 2025

📣 Como o Grande Medo de 1789 se espalhou como um vírus!

Pesquisadores investigaram o Grande Medo de 1789, um período em que rumores infundados sobre uma suposta fome orquestrada pela aristocracia se espalharam pela França em apenas algumas semanas. Este episódio contribuiu para desencadear revoltas populares e desempenhou um papel na Revolução Francesa, marcando o fim do sistema feudal. A equipe utilizou documentos históricos detalhados para traçar a cronologia e a geografia dessa disseminação.


A tomada da Bastilha, momento emblemático da Revolução Francesa.
Imagem Wikimedia

Utilizando modelos matemáticos semelhantes aos empregados para estudar epidemias, os cientistas calcularam que esses rumores se propagavam com um número de reprodução básico de 1,5, significando que cada pessoa exposta transmitia em média a informação para 1,5 outro indivíduo. O pico de transmissão foi atingido em 30 de julho de 1789, seguido por um declínio rápido, mimetizando a curva típica de uma doença infecciosa.


As áreas mais afetadas eram caracterizadas por uma população elevada, uma alta taxa de alfabetização, maior riqueza, concentração da propriedade fundiária e preços do trigo mais altos. A transmissão seguia principalmente as rotas principais e os circuitos postais, formando ondas distintas de contágio, o que ressalta a importância das redes de comunicação na disseminação de informações.

Esta abordagem epidemiológica sugere que o Grande Medo era mais o resultado de um comportamento racional e politicamente motivado do que de uma simples explosão emocional. Ela oferece um quadro para analisar outros eventos históricos ou contemporâneos de propagação de rumores, inclusive na era digital onde os meios de transmissão evoluíram.


A propagação do Grande Medo era influenciada por fatores demográficos e socioeconômicos.
Crédito: Nature (2025). DOI: 10.1038/s41586-025-09392-2

Embora os arquivos históricos incompletos possam limitar a precisão dos modelos, este estudo abre caminho para uma melhor compreensão de como as informações falsas podem moldar as dinâmicas sociais e políticas, com implicações para a gestão de crises modernas.

Modelos epidemiológicos aplicados aos rumores


Os modelos epidemiológicos, inicialmente desenvolvidos para estudar a propagação de doenças, são adaptados para analisar a difusão de rumores. Eles se baseiam em equações matemáticas que descrevem como uma informação se transmite de um indivíduo para outro numa população.

Estes modelos incluem parâmetros como a taxa de contato entre as pessoas, a probabilidade de transmissão e a duração durante a qual uma pessoa permanece contagiosa. Para os rumores, a contagiosidade depende de fatores como a credibilidade percebida e a emoção suscitada.

A aplicação destes modelos a eventos históricos permite quantificar fenômenos sociais. Por exemplo, o cálculo do número de reprodução básico ajuda a prever se um rumor vai se extinguir rapidamente ou se tornar viral.

Esta metodologia oferece uma ferramenta poderosa para antecipar e gerir a propagação de informações falsas nas sociedades modernas, onde as redes sociais amplificam consideravelmente as velocidades de transmissão.

Impacto socioeconômico dos rumores históricos



Os rumores, como o do Grande Medo de 1789, podem ter consequências profundas sobre as estruturas sociais e econômicas. Eles atuam frequentemente como catalisadores de mudanças, mobilizando as massas em torno de medos ou esperanças compartilhados.

No caso da França do século XVIII, o rumor de uma fome orquestrada exacerbou as tensões existentes entre as classes sociais, levando a revoltas e acelerando o colapso do feudalismo. Isso demonstra como uma informação, mesmo falsa, pode alterar o curso da história.

Os fatores socioeconômicos, como a riqueza e a alfabetização, influenciam a suscetibilidade a acreditar e propagar rumores. As comunidades mais educadas e conectadas podem ser mais rápidas a difundir informações, mas também mais críticas.

Fonte: Nature
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