É um mistério que todos nós vivemos, sem realmente entendê-lo. Como o nosso cérebro ordena ao nosso corpo que se mova?
A resposta pode muito bem estar escondida na atividade espontânea de nossos neurônios, cuja lentidão intriga os pesquisadores.
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Desde a década de 1960, os neurocientistas observam um aumento progressivo da atividade cerebral logo antes de um movimento espontâneo. Mas a origem dessa atividade permanecia obscura. A descoberta de uma equipe do Instituto do Cérebro na Universidade Chapman muda esse cenário.
Ao simular a atividade espontânea de redes neuronais, os pesquisadores compararam esses dados com os registros de cérebros humanos em plena ação. Eles descobriram que interações entre neurônios, aparentemente rápidas e desordenadas, acabam por produzir uma lenta oscilação em larga escala.
É essa oscilação lenta que pode ser a chave. Os pesquisadores explicam que ela permite a ultrapassagem de um limiar, desencadeando o movimento. Um atraso de 1 a 2 segundos seria necessário entre o início da oscilação e a ultrapassagem do limiar que resulta no movimento efetivo. Essa descoberta lança uma nova luz sobre o fenômeno da preparação cerebral.
Ainda mais intrigante, esse lento aumento na atividade não se restringe às ações físicas. Ele estaria também presente durante outros processos espontâneos, como a criatividade ou a memória.
Assim, a ultrapassagem desse limiar neuronal parece ser um fenômeno fundamental em diversos comportamentos humanos, muito além do simples movimento. As pesquisas continuam para desvendar mais sobre esses mecanismos ocultos.
O que é o limiar neuronal?
O limiar neuronal é o nível crítico de excitação que uma célula nervosa (ou neurônio) deve atingir para desencadear uma ação. Os neurônios recebem constantemente sinais elétricos. Se esses sinais excederem um determinado nível, chamado de "limiar", o neurônio responde enviando um sinal.
Quando esse limiar é atingido no córtex motor, um movimento é iniciado. Antes de atingir esse limiar, a atividade neuronal aumenta lentamente, um fenômeno frequentemente observado antes de ações espontâneas. Essas oscilações lentas, embora produzidas por neurônios individuais com atividade rápida, parecem fundamentais para a iniciação do movimento.
Autor do artigo: Cédric DEPOND
Fonte: Nature Communications