Adrien - Quarta-feira 10 Setembro 2025

🦋 Como as mariposas australianas percorrem até 1000 km na primavera

As mariposas bogong da Austrália realizam todas as primaveras uma migração espetacular para as grutas dos Alpes australianos, percorrendo até 1000 quilômetros sem qualquer ajuda externa. A sua capacidade de navegar com precisão no escuro há muito intriga os cientistas, que acabaram de descobrir mecanismos surpreendentes por trás desta proeza.

Um estudo recente publicado na Nature revela que estes insetos utilizam conjuntamente as estrelas e o campo magnético terrestre para se orientarem. Os investigadores, liderados pelo professor Eric Warrant, realizaram experiências em laboratório simulando o céu noturno e o magnetismo, demonstrando que as mariposas mudam de direção quando a abóbada celeste é modificada, e perdem-se quando as estrelas são obscurecidas. Na ausência de visibilidade estelar, recorrem ao campo magnético como sistema de reserva.


Uma mariposa bogong - imagem Wikimedia.


O seu cérebro, apesar do seu pequeno tamanho, consegue integrar estas informações para manter uma trajetória correta. Os cientistas suspeitam da implicação de proteínas sensíveis à luz, as criptocromas, que poderiam desempenhar um papel na deteção magnética. Estas proteínas, presentes nos olhos das mariposas, interagiriam com a luz para criar uma espécie de bússola interna, embora os mecanismos exatos permaneçam por elucidar.

As próximas investigações concentrar-se-ão na forma como estas mariposas reconhecem o seu destino após a chegada. A equipa explora pistas sensoriais, como odores ou características da paisagem, que poderiam sinalizar a chegada. Compreender estes processos poderia esclarecer aspetos mais amplos da navegação animal e até inspirar tecnologias humanas.

Esta descoberta sublinha a incrível adaptabilidade das espécies migratórias face aos desafios ambientais. Também abre perspetivas para a conservação, pois as perturbações magnéticas ou luminosas, como a poluição luminosa, poderiam afetar estas viagens essenciais à sua sobrevivência.

Navegação pelas estrelas nos animais


Muitas espécies, como aves ou mariposas, utilizam os corpos celestes para se orientarem durante as suas migrações. Esta capacidade, chamada astronavegação, baseia-se na deteção da posição das estrelas ou da Lua.

Nas mariposas bogong, os investigadores observaram que elas se alinham com a Via Láctea, uma faixa luminosa no céu noturno. Ao contrário dos humanos, que precisam de instrumentos, estes insetos possuem olhos adaptados para perceber os padrões estelares mesmo com baixa luminosidade.

Esta forma de navegação é particularmente eficaz em noites claras, mas pode ser perturbada pela cobertura nebulosa ou pela luz artificial. Os animais desenvolvem frequentemente sistemas de reserva, como o campo magnético, para compensar estes imprevistos.

O estudo destes mecanismos ajuda a compreender a evolução dos comportamentos migratórios e os impactos das mudanças ambientais na fauna.

O campo magnético terrestre como guia



O campo magnético da Terra atua como uma bússola natural para diversos organismos, desde aves a insetos e tartarugas marinhas. É gerado pelo movimento do ferro líquido no núcleo terrestre e estende-se até ao espaço.

Os animais percebem este campo graças a estruturas especializadas, como cristais de magnetite no seu corpo ou, como suspeitado nas mariposas bogong, através de proteínas criptocromas sensíveis à luz. Estas proteínas poderiam criar reações químicas influenciadas pela orientação magnética.

Esta sensibilidade permite aos migrantes manter uma direção constante sobre longas distâncias, mesmo sem pontos de referência visuais. É importante para a sobrevivência, nomeadamente durante as migrações sazonais.

As perturbações humanas, como linhas elétricas ou atividades industriais, podem interferir com este sentido magnético, colocando riscos para a conservação das espécies.

Fonte: Nature
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