Uma caminhada nos Alpes italianos tomou um rumo inesperado.
Sobre um solo rochoso, um casal de caminhantes descobriu formas regulares em uma laje de arenito. Sua foto atraiu a atenção dos cientistas. Após análise, os especialistas identificaram pegadas deixadas por um réptil pré-histórico, muito antes do surgimento dos dinossauros. A 1.700 metros de altitude, essas pegadas fossilizadas revelam um passado remoto que remonta a 280 milhões de anos.
Essas pegadas, da era Permiana, provêm de uma paisagem radicalmente diferente dos atuais Alpes. Naquela época, os continentes formavam a Pangeia, um supercontinente. As montanhas ainda não existiam.
As escavações realizadas no vale de Ambria revelam uma biodiversidade fóssil excepcional: pegadas deixadas por tetrápodes, anfíbios e diversos invertebrados. Algumas trilhas, muito detalhadas, mostram espécies atingindo até três metros de comprimento. As condições de fossilização atestam um ecossistema complexo. Rios e lagos intermitentes, alternando inundações e secas, preservaram essas pegadas sob camadas de sedimentos. O sol e a argila endureceram as superfícies antes de serem cobertas.
Segundo os pesquisadores, essa preservação excepcional permite estudar não apenas as espécies, mas também seu ambiente. As pegadas revelam até mesmo detalhes como impressões de pele ou garras.
A mudança climática teve um papel crucial nessa descoberta. O derretimento dos glaciares e das neves eternas expôs esses vestígios. Esse fenômeno, aliás, é responsável por várias descobertas semelhantes nos Alpes.
Os fósseis descobertos estão agora expostos no Museu de História Natural de Milão. Eles ilustram um raro momento da história da vida na Terra. A pesquisa continua para revelar mais. Essas pegadas nos lembram da vastidão do tempo geológico e da fragilidade de nossos registros fósseis. Uma simples caminhada revelou um ecossistema inteiro extinto, incrustado na pedra.
O que é o período Permiano?
O período Permiano, que se estendeu de cerca de -299 a -251 milhões de anos atrás, é o último tempo da era Paleozóica. Ele precede o surgimento dos dinossauros e marca transformações importantes na história da Terra.
Durante o Permiano, os continentes estavam reunidos em uma única superestrutura chamada Pangeia, circundada por um vasto oceano, Pantalassa. Essa configuração geográfica influenciava os climas e ecossistemas, favorecendo ambientes áridos nas zonas centrais do supercontinente.
A vida terrestre durante esse período era dominada por répteis primitivos, anfíbios e uma vegetação composta principalmente por coníferas, samambaias e plantas adaptadas aos climas secos. O Permiano termina com uma extinção em massa, a maior da história, que eliminou cerca de 90% das espécies marinhas e 70% das espécies terrestres.
Como se formam pegadas fossilizadas?
As pegadas fossilizadas se formam quando organismos caminham sobre superfícies macias como lama ou areia. Esses substratos devem possuir certa umidade para preservar os detalhes das pegadas.
Com o tempo, essas pegadas são cobertas por sedimentos como argila ou silte, que protegem sua estrutura. Processos geológicos então transformam as camadas sedimentares em rocha, fossilizando as pegadas.
Condições específicas, como secagem rápida ou ausência de erosão, são necessárias para preservar essas pegadas por milhões de anos. Detalhes, como garras ou a textura da pele, às vezes são preservados, oferecendo uma janela excepcional para o passado.
Autor do artigo: Cédric DEPOND
Fonte: Museu de História Natural de Milão