Sabe-se que os bebês cuja alimentação é rica em glicose ou frutose correm maior risco de se tornarem obesos ou sofrerem de doenças metabólicas mais tarde na vida. Considerando esse risco, as mães diabéticas devem abster-se de amamentar quando seu nível de glicose (glicemia) está elevado? Não, sugere um estudo publicado na revista
Diabetes Care por pesquisadoras canadenses incluindo Patricia Lemieux, professora da Faculdade de Medicina da Universidade Laval e pesquisadora do Centro de Pesquisa do CHU de Quebec - Universidade Laval.
A glicose e a frutose são muito pouco abundantes no leite humano. Isso explicaria por que a glicemia das mães tem repercussões menores na composição geral do seu leite.
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Para realizar este estudo, as pesquisadoras contaram com a colaboração de 11 mães com diabetes tipo 1. As participantes aceitaram fornecer pelo menos uma amostra de leite em 3 momentos: 6, 12 e 24 semanas após o nascimento de seu filho. Este leite, coletado no meio da mamada em um recipiente estéril, foi congelado e subsequentemente analisado em laboratório. Além disso, para determinar a quantidade de leite ingerida por seu filho, as mães precisavam pesá-lo antes e depois da mamada usando uma balança eletrônica. Finalmente, elas precisavam usar um aparelho que registrava, continuamente, seu nível de glicose no sangue.
A análise desses dados forneceu vários ensinamentos interessantes. Primeiro, a glicemia das mães medida entre 90 e 120 minutos antes da mamada está correlacionada com o teor de glicose e frutose de seu leite. Porém, não está correlacionada com a concentração de outros componentes importantes do leite, entre outros a lactose, que representa 85% de todos os açúcares do leite humano, as proteínas e os ácidos graxos livres. Além disso, a glicemia da mãe não estava correlacionada com o nível de leptina (um hormônio que regula o apetite) no leite nem com a quantidade de leite ingerida pela criança.
"A glicose e a frutose são muito pouco abundantes no leite humano. A título de comparação, a concentração de lactose é 100 vezes maior que a de glicose, lembra Patricia Lemieux. Para as mulheres que controlam bem seu diabetes, a decisão de amamentar não deveria ser influenciada por sua glicemia."
O diabetes tipo 1 representa cerca de 10% de todos os casos de diabetes. No Canadá, estima-se que aproximadamente 150.000 mulheres vivem com diabetes tipo 1. As conclusões do estudo valem também para mulheres com diabetes tipo 2?
"Nosso estudo não permite responder a essa pergunta porque há vários outros elementos a considerar com o diabetes tipo 2, destaca a professora Lemieux. Porém, as mais recentes diretrizes da Diabetes Canada recomendam a amamentação em toda paciente diabética."
O estudo publicado na
Diabetes Care foi dirigido por Lois Donovan, professora da Universidade de Calgary.
Fonte: Universidade Laval