Envolver-se em um acidente de trânsito após consumir álcool, medicamentos, cannabis ou outras drogas recreativas está longe de ser uma situação excepcional.
De fato, um
estudo pan-canadense, publicado na
Jama Network Open, revela que substâncias capazes de alterar as faculdades foram detectadas em mais da metade dos motoristas levados ao pronto-socorro após colisões no Canadá.
Imagem ilustrativa Pixabay
Uma equipe de 22 cientistas, incluindo
Marcel Émond e
Éric Mercier, professores da Faculdade de Medicina da Universidade Laval e pesquisadores do Centro de Pesquisa do CHU de Québec - Universidade Laval, chegou a essa conclusão após analisar amostras de sangue coletadas de 8328 pessoas que estavam dirigindo durante um acidente de trânsito ocorrido entre janeiro de 2019 e junho de 2023.
Suas lesões, cuja gravidade variava de moderada a grave, exigiram transporte para o pronto-socorro dos 15 hospitais participantes localizados em 8 províncias canadenses.
Nas 6 horas seguintes ao acidente, foram coletadas amostras de sangue para fins clínicos dessas pessoas. O que restou das amostras após os testes foi usado para análises visando detectar a presença de substâncias que poderiam afetar a direção.
Cinco categorias de substâncias foram consideradas: álcool, cannabis, opioides, estimulantes como cocaína, anfetaminas e Ritalina, além de sedativos como antidepressivos, ansiolíticos e medicamentos para insônia. "Nesses 3 últimos casos, não podemos determinar se as pessoas fizeram uso terapêutico ou recreativo desses produtos", esclarece Marcel Émond.
As análises revelaram a presença de pelo menos uma dessas substâncias em 55% dos indivíduos e a presença de pelo menos 2 substâncias em 22% deles.
As classes de substâncias mais frequentemente detectadas foram sedativos (28%), álcool (16%; 13% de todos os sujeitos estavam acima do limite de 0,08), cannabis (16%; 3% de todos os sujeitos estavam acima do limite de 5 ng de THC/ml), estimulantes (13%) e opioides (11%).
O álcool e a cannabis possuem regulamentação legal clara e há muitas campanhas de conscientização que incentivam as pessoas a não dirigir após seu consumo, lembra o professor Émond. "Nossos dados mostram que é preciso continuar esses esforços."
Para a maioria das outras substâncias, não há limites estabelecidos. As recomendações sobre seu uso, quando empregadas como medicamentos, são muito vagas em relação à direção veicular. "A associação que nosso estudo estabelece entre acidentes de trânsito e a presença de certos medicamentos no sangue dos motoristas acende um alerta sobre esse assunto", conclui o pesquisador.
Fonte: Universidade Laval